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África busca investimento em cúpula com UE para frear migração

Olivier Monnier e Yinka Ibukun

29/11/2017 12h13

(Bloomberg) -- Os líderes europeus e africanos reunidos na Costa do Marfim têm uma oportunidade para abordar um dos pontos mais sensíveis da relação entre os dois continentes: a migração.

A cúpula de dois dias entre a União Africana e a União Europeia começa nesta quarta-feira, em um momento em que a Europa está procurando frear a maior onda de solicitantes de asilo desde a Segunda Guerra Mundial, com mais pessoas chegando dos países africanos por mar neste ano do que da Síria, devastada pela guerra. A ansiedade em relação à migração atiçou o populismo na Europa e rendeu ganhos eleitorais para partidos de extrema-direita da França à Hungria.

"Para os europeus, essa é uma prioridade porque também é uma questão política interna e seu eleitorado é muito sensível a essa questão", disse Gilles Yabi, chefe do grupo político Wathi na capital do Senegal, Dakar.

No entanto, poucos líderes africanos querem ser vistos limitando a migração em uma região onde a viagem para outros continentes é geralmente considerada um rito de passagem e as remessas são vitais para a sobrevivência econômica. É por isso que os países da União Africana apoiam conversações que abordam questões mais amplas como o desenvolvimento econômico, a segurança e as relações comerciais, de acordo com Yabi.

'Projetos concretos'

O presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, deverão participar da cúpula em Abidjan. Entre os líderes africanos que participarão das negociações estão Muhammadu Buhari, da Nigéria, e o presidente sul-africano, Jacob Zuma.

A África só conseguirá convencer seus jovens a ficarem se houver perspectivas de desenvolvimento econômico no continente, disse Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana, à Rádio France Internacionale, na semana passada.

"Temos que começar pela raiz do problema, com desenvolvimento, com projetos concretos", disse Mahamat.

As posições dos líderes africanos e europeus sobre migração são divergentes em pontos fundamentais, afirmou o International Crisis Group em um relatório no mês passado. "A União Europeia está obstinadamente concentrada em tentar evitar a migração irregular e a União Africana está buscando maneiras de aumentar os fluxos legais", afirmou o grupo de pesquisa com sede em Bruxelas. "A UE gostaria de ter um debate aberto."

A dura situação dos migrantes africanos foi destacada neste mês por vídeos que mostram o que a Organização Internacional de Migração descreveu como mercados de escravos na Líbia, cenas que foram condenadas mundialmente e que podem dominar as discussões de abertura da cúpula. A União Africana prometeu "não poupar esforços" para acabar com essa prática e Macron afirmou que os leilões são um crime contra a humanidade.

Geração de empregos

A UE pretende disponibilizar 8 bilhões de euros (US$ 9,5 bilhões) para melhorar o controle da migração proveniente do Oriente Médio e da África. O programa de cinco anos deverá facilitar a volta dos migrantes ilegais para os países de origem por meio de "parcerias" com países específicos e ajudar a criar empregos e oferecer formação profissional no Oriente Médio e na África. Um financiamento adicional será destinado a limitar as mortes de migrantes no mar Mediterrâneo.

Em setembro, o Parlamento Europeu adotou outro plano, de 4,1 bilhões de euros, para a África, a fim de impulsionar o investimento privado e abordar as causas profundas da migração. O plano ajudará a promover até 44 bilhões de euros de investimentos em energia renovável, financiamento de pequenas e médias empresas e agricultura, de acordo com a UE.