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Opinião: Perspectiva para os principais BCs em 2018

Mohamed A. El-Erian

06/12/2017 14h07

(Bloomberg) -- Com a aceleração sincronizada do crescimento econômico global, os bancos centrais sistemicamente importantes provavelmente estarão mais inclinados a e capazes de começar ou continuar a normalização da política monetária em 2018. Mas o que vale para a comunidade de bancos centrais como um todo tem mais nuances quando a avaliação é feita para instituições individuais.

Listamos a perspectiva para os bancos centrais globais em grau ascendente de dificuldade e, portanto, de chance de erros.

O Federal Reserve é o que está mais avançado no processo de normalização. O BC dos EUA interrompeu o programa não convencional de compra de instrumentos financeiros, elevou a taxa básica de juros quatro vezes e apresentou um plano para redução gradual de seu balanço patrimonial.

O Fed provavelmente fará mais um acréscimo nos juros em breve e terá uma janela maior de normalização graças a propostas fiscais que tramitam no Congresso. Sendo assim, os mercados talvez precisem subir as projeções embutidas para as decisões do Fed, de modo a ficarem mais consistentes com a sinalização da instituição de dois ou três aumentos nos juros no ano que vem. E no contexto da "linda normalização" em curso, tais revisões não necessariamente abalariam a estabilidade financeira ou o crescimento econômico.

Uma complexidade enfrentada pelo Fed é que, em se tratando dos rendimentos dos títulos de prazo mais longo e da curva de juros, as políticas não convencionais de seus pares em outras economias desenvolvidas continuam exercendo influência relevante. As dificuldades para a condução da política monetária neste quesito são notavelmente maiores.

O Banco do Japão enfrentará intensificação das pressões para diminuir os estímulos. Além de precisar considerar mais seriamente a redução do programa de compra de ativos, o banco central japonês provavelmente tomará medidas no ano que vem para revisar para cima a meta para o rendimento dos títulos de 10 anos (atualmente em 0 por cento). Também será preciso criar uma sequência cuidadosa a partir da diminuição das compras não convencionais de ativos. O grau de facilidade ou dificuldade dessa implementação dependerá muito da situação política interna diante do primeiro-ministro Shinzo Abe ? se haverá ou não espaço para adoção de reformas estruturais que vêm sendo adiadas há muito tempo.

O Banco Central Europeu fará o máximo para seguir o plano anunciado recentemente de cortar pela metade as compras mensais de ativos para o equivalente a 30 bilhões de euros (US$ 34 bilhões) até setembro - um prelúdio ao encerramento do programa de compras em larga escala antes de retirar a taxa básica de juros do território negativo. Mas, pelo que se entende da ata da última reunião do BCE, os integrantes do Conselho Geral têm opiniões distintas. Assim, a instituição pode se ver na posição delicada de precisar mudar a projeção ao acelerar a retirada dos estímulos quantitativos, principalmente se a inflação subir mais rápido do que se espera atualmente.

Por mais que isso seja complexo ? especialmente para um banco central que define a política monetária de 19 países ?, nada se compara à complexidade da política monetária do Reino Unido. Com a redução das perspectivas de crescimento econômico e a inflação ainda bem acima da meta, o Banco da Inglaterra se vê diante de um dilema, especialmente depois de ser forçado a elevar a taxa básica de juros pela primeira vez em uma década. Reagir à inflação persistentemente acima da meta com novos acréscimos nos juros poderia aprofundar o desaquecimento da economia. Se a instituição adiar a subida dos juros, as expectativas de inflação podem piorar. E isso tudo sem falar nas incertezas ao redor do Brexit.

A boa notícia para a economia global é que o banco central mais poderoso do mundo, o Fed, é o que enfrenta as menores dificuldades (e pode restaurar maior flexibilidade para compensar riscos de crescimento e inflação decepcionantes adiante). Outra boa notícia é que a maior complexidade é enfrentada pelo banco central com menor influência sistêmica, o Banco da Inglaterra.

O maior risco de política monetária para a economia global não envolve as perspectivas de instituições individuais e sim o que acontecerá se todos esses bancos centrais, além do Banco Popular da China, decidirem diminuir os estímulos monetários ao mesmo tempo. Em se tratando dos bancos centrais, essa é a maior fonte de riscos para os preços dos ativos e para a economia global, exigindo monitoramento de alta frequência e consultas internacionais.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP ou seus proprietários.