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Excesso de café dependerá de produtores que não estão vendendo

Isis Almeida, Mai Ngoc Chau e Fabiana Batista

08/12/2017 16h30

(Bloomberg) -- Hoang Thi Thom, uma produtora de café do Vietnã, o segundo maior produtor do mundo, não está interessada em vender a colheita deste ano.

Com a queda 18 por cento dos preços do robusta em 2017, Thom só vendeu uma parte minúscula das 6 a 7 toneladas que espera colher nesta safra. O restante ela pretende guardar até depois dos feriados do Tet, que celebram o Ano Novo Lunar, em meados de fevereiro.

"Nós teríamos um grande prejuízo se vendêssemos o café por esse preço tão barato", disse Thom, em Dak Lak, a principal província produtora do Vietnã. "O resto da minha colheita eu acho que vou vender em fevereiro, depois do Tet."

E Thom não é a única. A 17.500 quilômetros de distância, no maior produtor do mundo, o Brasil, o produtor João Luís Carneiro Vianna está segurando a metade da colheita deste ano, mais do que os 30 por cento de sempre. O preço do arábica, mais caro e mais suave, que produz, caiu 8 por cento neste ano.

Essa reticência de produtores mais capitalizados no Brasil e no Vietnã a vender muito barato poderia frustrar as apostas dos especuladores, que esperam que um excesso de oferta enfraqueça ainda mais o mercado. As perspectivas de uma safra maior no Vietnã neste ano, uma colheita abundante do Brasil em 2018 e o excedente resultante ajudaram a diminuir os preços.

"Esses são dois países onde os produtores são mais sofisticados", disse José Sette, diretor executivo da Organização Internacional do Café, em uma entrevista na Cidade Ho Chi Minh. "Nos níveis atuais, os preços não são muito atraentes para os produtores. Não há entusiasmo para vender rapidamente."

Produção

A projeção é de que a produção do Vietnã aumentará 5 por cento a 10 por cento, com uma recuperação depois da safra do ano passado, que foi prejudicada pelas chuvas, segundo a Intimex Group, o maior exportador do país. No Brasil, os traders esperam uma expansão da produção porque as árvores de arábica estão entrando no ano de maior produtividade do ciclo bienal da cultura. Alguns estão apostando em uma colheita enorme, com um recorde de produção.

Na principal região produtora de arábica do Brasil, Minas Gerais, Vianna colheu 1.300 sacas neste ano, mas agora diz que só pretende vender o restante de seu café quando os preços chegarem a R$ 500 (US$ 154,55) por saca, cerca de R$ 50 acima dos níveis atuais.

"Eu estou vendendo só o necessário para manter o fluxo de caixa", disse ele. "Vou esperar uma janela de preços melhores para vender o meu café."