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Fazendeiros do pampa argentino temem seca após inundações

Jonathan Gilbert

15/12/2017 14h07

(Bloomberg) -- As últimas semanas no pampa argentino foram difíceis para Tomás Conchez porque as chuvas fortes deixaram alguns equipamentos usados no plantio da soja atolados na lama. Mas o que preocupa de verdade o produtor de 31 anos é a seca.

O temor pode surpreender, considerando os campos encharcados que Conchez aluga perto da localidade de Bernardo Larroudé, na província de La Pampa. As condições são tão ruins que ele deixará 400 hectares de campos inundados sem plantar nessa temporada.

Mas em outras partes da Argentina, uma das maiores exportadoras de produtos agrícolas, os produtores já enfrentam a seca. Assim como o excesso de chuva pode atrapalhar homem e máquina durante a temporada de plantio atual, a seca é potencialmente muito pior, porque pode deixar o solo rachado demais para semear ou para permitir que as sementes germinem.

"A agricultura está se tornando cada vez mais incerta e perigosa", afirmou a Sociedade Rural de Rosário, que representa os produtores do sul da província de Santa Fé, em comunicado no início da semana.

Metade dos 6,6 milhões de hectares de soja ainda não plantados precisa ser semeada nas próximas duas semanas, mas a falta de umidade no solo arável pode impedir os produtores de plantar, informou a Bolsa de Cereais de Buenos Aires na quinta-feira. A bolsa advertiu que se a previsão de chuva para a próxima semana não se concretizar, poderá ter que reduzir a estimativa da área de cultivo.

A seca marca uma mudança depois de cinco anos de período úmido, iniciado em 2012, e a seca atual, que limita o rendimento, poderia durar várias safras, segundo a bolsa. Um dos possíveis causadores da seca é o La Niña, que pode provocar estiagem na América Latina. Há 92 por cento de chances de que o fenômeno meteorológico dure até fevereiro, informou o Centro de Previsão Climática dos EUA na quinta-feira.

É muito cedo para saber se o preço da soja subirá devido ao clima. Como as chuvas anteriores deixaram uma reserva abundante de água, o início da seca não deverá reduzir os rendimentos desta safra, segundo Eduardo M. Sierra, climatologista da bolsa de Buenos Aires.

Mesmo assim, os mercados internacionais de grãos estão atentos. Existe um consenso de que eventos climáticos severos, como secas, provavelmente provocarão a redução dos excedentes e a recuperação final dos preços das safras. A Argentina é a terceira maior produtora de soja e a maior exportadora de farelo de soja, usado como alimento animal. Os preços da ração aumentaram no início do mês em Chicago devido à preocupação com as condições do país.

Em Bernardo Larroudé, as chuvas mantiveram o solo arável úmido, o que é positivo para a soja, que precisa de umidade para germinar. Mas nas províncias próximas de Santa Fé, Córdoba e Entre Rios, que são potências agrícolas, a seca significa que os produtores não vão poder semear a tempo. Cerca de 69 por cento do milho e da soja cultivados na região permaneceram mais secos do que normalmente nos últimos 60 dias, segundo a T-storm Weather, de Chicago.

--Com a colaboração de Jeff Wilson