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Ex-gerente do Rabobank coopera em investigação sobre tráfico

Tom Schoenberg e Jesse Hamilton

18/12/2017 12h30

(Bloomberg) -- Um homem que já trabalhou como gerente nos EUA para o gigante holandês Rabobank Groep afirma que ajudou a esconder possíveis crimes de clientes. Ele está ajudando promotores americanos em uma longa investigação que apura se o banco esteve envolvido na lavagem de milhões de dólares de dinheiro de traficantes mexicanos.

George Martin fez um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA que exige a cooperação dele na investigação sobre a operação de varejo do Rabobank, de acordo com documentos judiciais.

Martin trabalhou na área de compliance da divisão do banco na Califórnia entre 2007 e 2012. Ele confessou ter auxiliado um esquema criminoso para esconder possível lavagem de dinheiro de correntistas. Alguns dos superiores de Martin guiavam as atividades criminosas e outros estavam pelo menos cientes do que ocorria, afirmaram promotores em documentos liberados ao público na sexta-feira, em um tribunal federal de San Diego. O esquema funcionou a partir de 2009 e pelo menos até a saída dele, em abril de 2012, de acordo com os promotores.

O caso contra Martin é o primeiro movido pelo Departamento de Justiça na investigação de quatro anos que tenta apurar se o Rabobank ignorou evidências de que suas agências próximas à fronteira com o México eram usadas para lavar dinheiro de traficantes de drogas. Documentos de acusação contra Martin alegam que profissionais do alto escalão do banco propositalmente escondiam lavagem de dinheiro por clientes e impediam que as autoridades reguladoras descobrissem o que ocorria. Esses dois aspectos são importantes para os promotores decidirem se houve violação da Lei de Sigilo Bancário.

Há meses, o Rabobank está negociando com autoridades dos EUA um acordo para encerrar a investigação, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto.

Robert Long, advogado de Martin, não retornou imediatamente uma solicitação de comentário para esta reportagem. "Conforme nossa prática padrão, não fazemos comentários sobre funcionários ou ex-funcionários", escreveu Hendrik Jan Eijpe, porta-voz do Rabobank. A instituição fechou algumas agências americanas próximas à fronteira com o México e afirma estar cooperando com as autoridades.

Ao longo do ano, o Rabobank tentou vender suas quase 100 agências a outro banco da Califórnia, segundo pessoas a par da situação, mas negociações não deram certo. A divisão do banco na Califórnia é especializada em crédito agrícola e tem US$ 14 bilhões em ativos ? apenas uma fração do total de ativos da instituição, que chega a US$ 780 bilhões.

Testemunhas

Promotores em San Diego e Washington interrogaram funcionários e ex-funcionários do Rabobank no ano passado sobre os controles usados no combate à lavagem de dinheiro na fronteira. Alguns testemunharam oficialmente sobre os atos de determinados executivos, segundo pessoas entrevistadas pela Bloomberg News na época.

Martin era gerente na área de compliance e responsável por monitorar possíveis atividades criminosas nas contas de clientes e ajudar a decidir quais seriam investigadas como transações suspeitas, que então seriam relatadas ao Departamento do Tesouro dos EUA.

A partir de 2009, ele e colegas do banco ? que não são identificados nos documentos judiciais ? estabeleceram programas que restringiam a capacidade de funcionários menos graduados de investigar contas de clientes, incluindo contas que o banco já havia colocado na categoria de "alto risco" e já haviam sido relatadas como suspeitas ao Tesouro.
Martin admitiu ter utilizado mal, junto com colegas, uma "lista de atividades verificadas" de clientes. A lista era um modo eficiente de impedir que funcionários investigassem novamente clientes com negócios que já haviam sido considerados legítimos. A lista impedia que potenciais atividades de lavagem de dinheiro fossem investigadas por outras pessoas dentro do banco, de acordo com a promotoria.

O número de contas na "lista de atividades verificadas" era inferior a 10 em 2009 e passava de 1.000 em 2012, segundo a acusação.

Alerta sobre Calexico

Em fevereiro de 2010, autoridades americanas informaram Martin e colegas sobre potencial lavagem de dinheiro na agência do Rabobank na cidade de Calexico, na Califórnia, a partir de uma conta de pessoa jurídica com sede no México. O caso não foi investigado porque a agência queria fazer mais negócios com os detentores da conta, segundo promotores. A empresa dona da conta não foi identificada nos documentos judiciais.

Mesmo depois que autoridades confiscaram contas por suspeitas de que estavam sendo usadas para movimentar milhões de dólares em dinheiro do narcotráfico, Martin e colegas decidiram não investigá-las. Segundo promotores, estas foram usadas para movimentar mais de US$ 10 milhões em transações suspeitas entre 2009 e 2011.

Em fevereiro de 2010, Martin e outros também prejudicaram intencionalmente investigações sobre lavagem de dinheiro em uma conta de empresa com sede no México, a partir da agência de Tecate. Os donos da empresa e entidades relacionadas já haviam sido alvo de pelo menos 25 relatos de atividades suspeitas pelo próprio Rabobank, segundo os promotores. Esta empresa também não é identificada nos documentos judiciais.

O Rabobank é uma cooperativa com sede em Utrecht, na Holanda, e se promove como um dos bancos mais seguros e honestos da Europa.

--Com a colaboração de Wout Vergauwen