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Variação climática desestimula plantação de cevada na França

Isis Almeida

28/12/2017 15h20

(Bloomberg) -- Os fazendeiros franceses não querem mais plantar cevada porque mudanças nos padrões climáticos representam um risco muito grande em uma época de preços baixos, segundo uma das maiores cooperativas de grãos do país.

O clima tem variado mais e está atrapalhando a produção de cevada de alta qualidade, disse Christoph Bueren, presidente da Vivescia. Nos últimos anos, os lucros caíram porque os campos produziram mais da cevada de baixa qualidade que só serve como ração animal, embora os fazendeiros tenham plantado variedades mais caras usadas na fabricação de cerveja.

Os preços de grãos estão em baixa há anos. O contrato futuro de trigo negociado em Paris terá um quinto ano consecutivo de queda, a mais longa sequência de perdas desde que os dados começaram a ser compilados, em 1999. A cevada seguiu o mesmo caminho e a área plantada na França é a menor em quatro anos, de acordo com o Ministério da Agricultura.

"Quando ocorre uma seca, dura mais do que antes. Quando ocorre um período de chuvas, também demora mais do que antes", explicou Bueren. "Os problemas com a qualidade da cevada são tão grandes que os produtores estão com medo."

A França é a maior produtora de grãos da União Europeia. Segundo dados divulgados neste mês pelo Ministério da Agricultura, os fazendeiros franceses semearam 1,36 milhão de hectares com cevada de inverno para colheita no meio do ano que vem. A área plantada é 4,6 por cento menor do que um ano atrás e a menor desde 2014.

'Absolutamente arriscada'

Enquanto isso, a plantação de produtos mais lucrativos, como a canola, aumentou 9,5 por cento. Os contratos futuros de sementes de canola acumulam queda de 14 por cento neste ano na Euronext, mas subiram em 2015 e 2016.

"A melhor margem, se a safra for boa, é a da canola, mas depois disso é a cevada para malte e até a cevada da primavera para malte, mas é absolutamente arriscada", disse Bueren. "Nesses preços, é preciso olhar tudo e assumir o menor risco que puder."

Agricultores que precisam plantar cevada para fazer a rotação de plantações provavelmente darão preferência ao grão usado como ração, ele prevê. Isso porque têm mais a perder quando semeiam cevada para malte, que é uma lavoura mais custosa, e, por causa do clima desfavorável, acabam colhendo produto de baixa qualidade que só serve como ração. Se os preços estivessem mais elevados, os fazendeiros assumiriam riscos com mais facilidade, disse Bueren.

Os produtores franceses ainda se recuperam da safra desastrosa do ano passado, quando chuvas intensas derrubaram a produtividade do trigo de grão mole para o menor nível em três décadas. A recuperação observada neste ano contribuiu para a melhora do fluxo de caixa dos agricultores, mas não a ponto de compensar as perdas do ano passado, de acordo com a Vivescia.

"Eles não têm dinheiro para reinvestir, para usar em fertilizantes, pesticidas e outras coisas", ele disse. "É por isso que, mesmo neste ano, continuaremos a ajudá-los a investir em suas plantações ao permitir que paguem pelas sementes, fertilizantes e pesticidas após a colheita em 2018."

Embora os níveis proteicos da safra de cevada deste ano sejam frequentemente altos demais (o que pode dificultar a produção de malte), a Vivescia afirma que as fábricas de malte podem lidar com o produto. Por outro lado, a qualidade do trigo está muito boa e estimula as vendas de trigo francês para a Arábia Saudita, que exige padrão maior de qualidade, explicou Bueren.

As vendas da França para países fora da União Europeia têm sido modestas, mas a demanda dentro do bloco tem sido robusta, com destaque recente para a Itália.

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