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China amplia laços com América Latina. EUA deveriam se preocupar

Carlos Torres e Randall Woods

03/01/2018 15h30

(Bloomberg) -- O surgimento da China como um rival econômico global para os EUA talvez seja mais claro na América Latina.

Nos últimos anos, os EUA perderam para a China o status de principal parceiro comercial em alguns países da América Latina, como no Chile, rico em cobre, e no Brasil, uma potência em agricultura e mineração. Agora, toda a incerteza em relação aos planos do presidente dos EUA, Donald Trump -- da construção de um muro na fronteira do sul do país ao novo esfriamento das relações com Cuba e à saída do acordo de Paris sobre a mudança climática, apoiado pela América Latina -- poderia dar espaço para que a China ganhe mais terreno na região.

Enquanto isso, o governo chinês está pronto para expandir seu domínio em uma região que já o abastece, expandindo a economia em tudo, dos produtos agrícolas às matérias-primas.

A China superou os EUA como o maior mercado de exportação do Brasil em 2009, quando a maior economia da América do Sul intensificou as remessas de vários tipos de produtos, como minério de ferro e soja. Um ano depois, a China se tornou o principal parceiro comercial da América Latina, se omitirmos o México e levarmos em conta apenas os países da América do Sul.

"A China estabeleceu com sucesso uma presença econômica realmente notável na região em um período de tempo relativamente curto", de acordo com Margaret Myers, diretora do Programa China e América Latina da Inter-American Dialogue.

O México é uma exceção, com a maior parte de seu comércio ainda voltada aos EUA devido, em certa medida, ao regime de tarifas zero do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). As exportações do país para os EUA totalizaram US$ 303 bilhões em 2016, em comparação com apenas US$ 5,4 bilhões para a China.

Mas o avanço da China na região poderia acelerar se Trump cumprir as ameaças de se retirar do Nafta, o que resultaria em tarifas mais altas entre o México e os EUA. O México já está fazendo planos de contingência para aumentar o comércio com outros países para o caso de o pacto comercial terminar, e sua proximidade com a América Latina faz com que ele seja naturalmente um ponto pivô.

De qualquer maneira, isso não significa que a China seria totalmente beneficiada se as relações entre os EUA e o México azedarem. A China está mais interessada em importar commodities da América Latina e as principais exportações do México para o vizinho do Norte são carros e peças de automóveis, bem como eletrônicos -- itens que a China já produz em abundância.

No entanto, a dissolução do Nafta poderia criar um vácuo no México que a China tentaria preencher, pelo menos parcialmente.

"Certamente o México estará interessado em colaborar mais com a China" -- assim como com outros países -- se o Nafta terminar, de acordo com R. Evan Ellis, professor de estudos latino-americanos no US Army War College. "A parceria do México com os EUA realmente tem sido um baluarte contra os avanços da China na região."