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Fim do monopólio da Petrobras no gás natural atrai investidores

Sabrina Valle

05/01/2018 20h40

(Bloomberg) -- O pré-sal que fez da Petrobras uma das maiores produtoras mundiais de petróleo está abrindo caminho para outra transformação: a da indústria de gás natural brasileira.

A gigante elétrica francesa Engie, seguindo os passos da Brookfield Asset Management, é uma das candidatas a comprar uma imensa rede de gasodutos da Petrobras. A Total, também da França, número 2 no mercado de gás natural liquefeito, já comprou participações de 50 por cento em duas usinas movidas a gás, além de direitos para usar um terminal de importação próximo.

O Brasil cede o controle estatal em troca de investimentos. A Petrobras quer levantar recursos para reduzir a maior dívida de uma petroleira no mundo e se concentrar na produção de petróleo. Está vendendo toda uma gama de ativos, desde o poço até o consumidor. Campos de gás, gasodutos, termelétricas, distribuidoras e até um pedaço de seus postos de gasolina, com a abertura de capital da BR.

Ao mesmo tempo, o crescente volume de gás produzido no pré-sal atrai multinacionais em busca de crescimento em uma indústria em expansão.

"Começamos a ver os primeiros passos de uma grande transformação do setor de gás natural no Brasil, a maior do setor. É um caminho sem volta", disse Décio Oddone, diretor-geral da agência reguladora ANP, em uma entrevista. "Não era um monopólio oficial, mas uma situação de domínio absoluto."

Embora o país tenha acabado de sair de uma grave recessão e ainda esteja se recuperando da Lava Jato, o Brasil ainda atrai investidores de longo prazo.

O país é a oitava maior economia do mundo e tem a quinta maior população do planeta. Tem uma base industrial diversificada que fabrica de tudo, como alumínio, carros e aeronaves, além de possuir enormes centros urbanos onde o gás é usado na cozinha e para abastecer carros.

O país atualmente consome cerca de 100 milhões metros cúbicos de gás natural por dia. O volume se compara à média de mais de 2 bilhões de metros cúbicos diários dos Estados Unidos, onde os invernos rigorosos aumentam a demanda por aquecimento. No Brasil, o aumento do consumo depende também de investimentos em infraestrutura.

"O uso industrial ainda é muito baixo. Não tenho dúvidas de que a participação do gás natural na matriz energética brasileira vai aumentar", disse Oddone. "A entrada de novos atores na infraestrutura vai estimular investimentos."

Depois de vender seus ativos de distribuição de gás no Sudeste para um grupo de investidores liderado pela Brookfield, por US$ 5,2 bilhões, em 2016, a Petrobras está agora recebendo ofertas por sua rede de gasodutos do Nordeste, com uma extensão de 4.500 quilômetros. A Engie estaria interessada nos ativos. Segundo fontes a par do assunto, os interessados estariam oferecendo até US$ 6 bilhões.

Grandes produtoras de petróleo que fecharam parcerias estratégicas com a Petrobras também incluíram ativos de gás em seus acordos. Em dezembro, a Statoil assinou um acordo para usar parte de um terminal da Petrobras que recebe gás do pré-sal na costa do Rio de Janeiro. 

As duas produtoras são sócias no campo de Pão de Açúcar. Até agora, a Petrobras comprava todo o gás de parceiras e concorrentes. O negócio de dezembro dá à norueguesa maior autonomia para comercializar sua produção. Rivais como Royal Dutch Shell e Chevron ainda precisam vender todo o gás produzido à Petrobras que, por sua vez, comercializa o produto às distribuidoras locais nas quais a estatal também tem participações.

--Com a colaboração de Ryan Collins