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Casa Branca deu acesso a autor de livro revelador sobre Trump

Jennifer Jacobs

17/01/2018 17h28

(Bloomberg) -- O argumento do escritor Michael Wolff para conseguir a colaboração da Casa Branca para seu livro incluiu um título de trabalho que sinalizava uma visão simpática, uma contranarrativa a uma série de notícias negativas sobre o início do mandato de Donald Trump na presidência dos EUA.

Ele o chamava de "A grande transição: os primeiros 100 dias do governo Trump". E, em parte devido a esse título, Wolff conseguiu explorar a equipe inexperiente da Casa Branca, que erroneamente acreditou que poderia moldar o livro ao gosto do presidente.

Quase todos os que falaram com Wolff pensaram que alguma outra pessoa na Casa Branca havia aprovado sua participação. E aparentemente nenhuma pessoa em cargo de autoridade para interromper a cooperação com o livro -- incluindo o próprio Trump -- emitiu nenhum sinal de alerta, apesar da história bem documentada de Wolff. Entre os trabalhos anteriores do autor estão um livro crítico a um confidente de Trump, Rupert Murdoch, copresidente do conselho da Twenty-First Century Fox.

O livro publicado sobre Trump tem o título "Fire and Fury" ("Fogo e Fúria") e pinta o retrato de uma Casa Branca turbulenta, onde quase todas as pessoas próximas ao presidente acreditam que ele não está à altura do cargo. O trabalho de Wolff afetou fortemente o início do segundo ano de Trump na presidência, distraindo o presidente e sua equipe da tarefa de dar sequência à primeira grande vitória legislativa -- a reforma tributária por ele sancionada no fim de 2017 -- com outra grande ofensiva política.

O livro fez Trump romper de forma pública e dramática a relação com Steve Bannon, seu ex-estrategista, citado por Wolff criticando o presidente e sua família. Os advogados de Trump fizeram uma ameaça ineficaz contra a editora de Wolff, buscando interromper a publicação do livro; em vez disso, a publicação apareceu antes nas lojas e chegou ao topo das listas dos mais vendidos.

O relato sobre como Wolff coletou informações para o livro é baseado em entrevistas com diversos atuais e antigos assessores e conselheiros de Trump. A maioria insistiu no anonimato por discutir um dos episódios mais embaraçosos da presidência de Trump até o momento.

Wolff não respondeu aos pedidos de entrevista enviados a ele e à editora.

Telefonema de Trump

A entrada de Wolff na Casa Branca começou com o próprio Trump, que telefonou para o autor no início de fevereiro para cumprimentá-lo por uma aparição na CNN na qual Wolff criticou a cobertura da mídia ao novo presidente.

Wolff disse a Trump na conversa que queria escrever um livro sobre os 100 primeiros dias de mandato do presidente. Muita gente quer escrever livros sobre mim, respondeu Trump -- fale com minha equipe. Os assessores Kellyanne Conway e Hope Hicks ouviram a argumentação de Wolff em uma reunião na Ala Oeste, no dia seguinte, mas não se comprometeram.

Vários assessores disseram que Hicks posteriormente concordou informalmente que conversassem com Wolff desde que fizessem comentários "positivos" para o livro. Wolff disse, segundo eles, que dessa forma poderiam contra-atacar a narrativa injusta da imprensa.

O sinal de alarme só soou na Casa Branca no fim de agosto -- quando Hicks, Jared Kushner e aliados perceberam que outros assessores que haviam conversado com Wolff, especialmente Bannon, poderiam ter contado histórias que os prejudicariam.