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Venezuela quer pagar servidor público com moeda digital para estimular uso

Patricia Laya

17/01/2018 12h02

(Bloomberg) -- O plano da Venezuela de ter sua própria criptomoeda inclui o pagamento de servidores públicos com o token digital e o uso de incentivos fiscais para estimular o uso, segundo documentos obtidos pela Bloomberg News.

O governo pretende emitir 100 milhões de petros, sendo que em torno de 38 milhões irão para investidores institucionais em uma pré-venda de um mês programada para começar em 15 de fevereiro com a qual as autoridades esperam arrecadar US$ 1,3 bilhão, segundo documentos preliminares.

Na sequência, haverá uma oferta adicional ao público em geral com preço mais alto, com 44 milhões de petros, com estimativa de alcançar US$ 2,4 bilhões no total. O restante das moedas irá para o governo e para um painel de conselheiros que ajudou o país a estabelecer as regras para o token.

Cada moeda seria respaldada por um barril de petróleo venezuelano, embora as moedas não possam ser trocadas pelo petróleo em si. As autoridades esperam que o preço mais elevado na segunda venda após o leilão inicial demonstrará a existência de demanda pela criptomoeda.

Cada petro será divisível em 100 milhões de unidades e a unidade de troca mínima será chamada de mene, segundo o projeto preliminar, que pode mudar antes do lançamento da moeda.

'Grande aposta'

O petro faz parte dos esforços da Venezuela para tirar a economia de uma das mais profundas recessões do mundo em meio à escassez devastadora de moeda forte e a sanções americanas que eliminaram as opções de financiamento mais tradicionais do presidente Nicolás Maduro.

Ele busca também tirar vantagem do interesse mundial pelos tokens digitais em meio ao aumento repentino dos preços do bitcoin e de rivais menores, como ether e ripple.

O país e sua petroleira estatal atrasaram mais de US$ 1,5 bilhão em pagamentos de títulos e os bancos têm hesitado em processar suas transações financeiras em dólares por medo de bater de frente com os órgãos reguladores dos EUA.

"O imperialismo pretende nos afogar, monitorar nossas contas bancárias e transações, bloquear nosso petróleo", disse Maduro em seu discurso de estado da união, no início da semana. "Esta é uma grande aposta que estamos fazendo pela estabilidade e pelo crescimento financeiro do nosso país."

Representantes do Ministério da Informação da Venezuela não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

Escassez de dólares

Pouco mais da metade dos recursos provenientes da emissão do petro irá para um fundo soberano e o restante será usado para respaldar a infraestrutura da criptomoeda e para outros projetos de tecnologia.

A Venezuela garantirá aos compradores que aceitará o petro como forma de pagamento para taxas e impostos e também pretende usar a moeda em negócios internacionais, principalmente transações relacionadas ao petróleo.

Os detentores do petro poderão trocar seus tokens por moeda forte, o que possivelmente ajudará a aliviar a escassez de dólares no país. O dólar subiu 72% em relação ao bolívar apenas neste mês (depois de subir 3.400% no ano passado), segundo o dolartoday.com, um website que monitora a cotação.

Além disso, o bolívar está sendo cada vez mais ignorado porque, com a inflação galopante, até mesmo os pequenos lojistas agora exigem moeda estrangeira para a compra de praticamente todos os produtos oferecidos.

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