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Ofertar moedas digitais ou não, eis a questão das startups

Yoolim Lee

22/01/2018 16h12

(Bloomberg) -- Aung Kyaw Moe e Jun Hasegawa têm muito em comum.

Ambos são empreendedores. Ambos deixaram seus países em busca de fortunas. Ambos trabalham em projetos de pagamentos digitais com operações no Sudeste Asiático.

Mas no momento de coletar dinheiro para financiar suas startups, tomaram caminhos opostos. Aung, 42, está levantando US$ 30 milhões em capital de risco com o objetivo de talvez abrir o capital da empresa em alguns anos. Hasegawa, 36, levantou US$ 25 milhões por meio da chamada oferta inicial de moedas, um processo de venda desregulado que ganhou bastante popularidade no ano passado. Os tokens de sua empresa, a OmiseGO, já valem mais de US$ 2 bilhões.

"Tem sido uma loucura", diz Hasegawa, cofundador e CEO da startup. "Levamos apenas seis meses para chegar aqui."

Aung observou a disparada da Omise com admiração e um pouco de inveja. Será que ele deveria tentar uma ICO também? O capital de risco pode ser mais difícil de conseguir, mas ele finalmente decidiu seguir este caminho e disse que as ICOs são uma base muito instável para construir uma empresa.

"Se tudo acabar estourando um dia, não haverá controle", disse Aung, cuja startup se chama 2C2P, referente à função da empresa, em inglês, de processadora de pagamentos com cartões e dinheiro. "Gosto de dormir com tranquilidade."

As rivais ilustram o dilema enfrentado por startups atualmente em todo o mundo. Deveriam buscar capital de risco tradicional, com sua previsibilidade e limitações, ou recorrer às ICOs, que oferecem dinheiro rápido, volatilidade e inúmeras incógnitas?

As ICOs estão ganhando apoio. As captações de recursos subiram para mais de US$ 6,8 bilhões em 2017, contra US$ 151 milhões em 2014, 2015 e 2016 combinados, segundo a firma de pesquisa Smith + Crown. Telegram, um serviço de mensagens criptografadas, planeja levantar pelo menos US$ 1,2 bilhão por meio de uma oferta inicial de moeda, que seria de longe a maior já realizada. Muitas pessoas apostam em ICOs por uma razão simples: as moedas dispararam nos últimos 12 meses, impulsionadas em parte pela alta de mais de 10 vezes do bitcoin.

A Omise e a 2C2P tomaram caminhos diferentes em suas decisões. Aung, um programador de computadores nascido em Myanmar, fundou sua startup em 2003 em Bangkok. Ele ajuda clientes como Thai Airways, Lazada e Zara a gerenciar os pagamentos on-line com cartões de crédito ou débito -- ou pagamentos em dinheiro em lojas de conveniência de pessoas sem acesso a bancos.

O japonês Hasegawa e o cofundador tailandês Ezra Don Harinsut criaram a Omise em Bangkok uma década depois como uma empresa de comércio eletrônico, e depois partiram para o ramo dos pagamentos. A rede OmiseGO tem como objetivo permitir que qualquer pessoa realize transações financeiras com criptomoedas, como ethereum e bitcoin, e também com dinheiro fiduciário, como o dólar. Eles querem passar as pessoas dos bancos tradicionais para o mundo descentralizado das moedas digitais.

Hasegawa, da Omise, acredita que as ICOs são o início de uma revolução financeira. "Todas as grandes empresas do mundo sempre mudaram seus modelos de negócio", disse ele.

Aung não tem a mesma certeza. "Quando algo parece bom demais para ser verdade, costuma ser assim", disse ele.

Título em inglês:
To ICO or Not to ICO? That Is The Question for Today's Startups

--Com a colaboração de Natnicha Chuwiruch e Yuji Nakamura