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Julgamento de Lula é distração para investidores de longo prazo

Aline Oyamada e Vinícius Andrade

23/01/2018 11h12

(Bloomberg) -- Instituições internacionais que investem no Brasil com um horizonte de pelo menos seis meses estão focadas nos fundamentos do País e não pretendem mudar de rumo após o julgamento do ex-presidente Lula, que pode definir o panorama para a eleição presidencial.

Analistas e economistas esperam volatilidade com a decisão judicial, nesta quarta-feira, sobre o recurso de Luiz Inácio Lula da Silva contra a condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas gestoras de recursos como Lazard Asset Management, NCH Capital e Legal & General Investment Management afirmam que a tensão pode ser exagerada e que o mais importante não é se o veredito impedirá Lula de concorrer ou abrirá caminho para ele voltar ao poder.

Segundo essas instituições, é bem mais relevante a trajetória da recuperação econômica, que não necessariamente será comprometida pelo resultado do julgamento.

Para a maioria dos especialistas, o mais provável é que a condenação de Lula seja mantida, diminuindo drasticamente a chance de ele disputar a presidência. Porém, um veredito diferente pode desencadear uma queda temporária dos ativos brasileiros que, na visão da Lazard, seria uma potencial oportunidade de compra.

"Mesmo se o tribunal isentar Lula, o caminho até a eleição ainda deve ser longo", disse Denise Simon, gestora de recursos em Nova York da Lazard, que supervisiona US$ 66,6 bilhões em ativos de mercados emergentes. "A campanha eleitoral ainda está nos primeiros dias."

Compilamos abaixo alguns comentários de investidores de longo prazo:

Simon, da Lazard:
* "Dependendo do tamanho da reação, pode ser uma oportunidade de compra"
* O julgamento é importante porque o Partido dos Trabalhadores se opõe às reformas trabalhista e da previdência defendidas pelo atual governo
* "Considerando que a reforma da previdência é pré-condição necessária para garantir um arcabouço macroeconômico robusto no Brasil, uma vitória das forças contrárias à reforma pode abalar severamente o sentimento do investidor e a confiança dos empresários brasileiros"

James Gulbrandsen, gestor no Rio de Janeiro da NHC Capital, que supervisiona US$ 3,5 bilhões:
* Se Lula ganhar a apelação, ele pretende manter investimentos no Brasil, mas estudaria mudanças significativas no perfil de risco dos ativos da carteira
* Ainda assim, ele não está entre os profissionais que consideram Lula "terrível para o mercado"
* "Os fundamentos brasileiros estão se recuperando dramaticamente e não quero correr risco de o fator político menor definir a questão maior dos fundamentos", ele disse. "Mantenham os investimentos, tenham ativos brasileiros. Ajustem o risco da carteira para baixo se ele for absolvido."

Simon Quijano-Evans, estrategista para mercados emergentes em Londres da Legal & General Investment Management, que administra aproximadamente 200 bilhões de libras esterlinas (US$ 277 bilhões) em ativos internacionais:
* "Considerando que ele pode recorrer quantas vezes quiser e que a espera pelos candidatos definitivos dos partidos ainda leva sete meses, dificilmente a decisão de 24 de janeiro terá impacto sustentado nos mercados, dado que tudo ainda está em aberto", ele disse
* O processo destaca que a política se tornou extremamente complexa no Brasil e o quanto o eleitorado está cansado dessas questões

Jim Barrineau, corresponsável por dívidas de mercados emergentes em Nova York na Schroders, que tem mais de US$ 520 bilhões sob gestão:
* Embora não seja a peça central da estratégia de investimentos dele, o julgamento pode sinalizar para os investidores o quão turbulenta será a temporada eleitoral de 2018
* Ele prefere dívidas corporativas a soberana por causa dos rendimentos maiores e do potencial para capturar benefícios oriundos do ciclo de crescimento
* Para ele, o dólar desvalorizado e o aumento das taxas de juros no mercado local vão sustentar o real pelo menos até a eleição se tornar mais relevante
* "Sem Lula, a chance de um candidato mais favorável ao mercado aumenta"

Sean Newman, gestor em Atlanta da Invesco Advisers, que tem mais de US$ 937 bilhões sob gestão:
* "Se o tribunal decidir manter a decisão, isso diminuiria substancialmente o risco de volta de Lula, portanto aumentando a chance de um candidato de centro vencer a eleição", ele disse.

Shamaila Khan, diretora para mercados emergentes em Nova York da AllianceBernstein, que tem US$ 554 bilhões sob gestão:
* O melhor resultado seria uma decisão unânime de manter o veredito inicial
* "A prudência fiscal precisa ser foco neste ano e do próximo governo"

Eduardo Levy, diretor e gestor na Rio Bravo Investimentos, que tem R$ 11,7 bilhões sob gestão:
* Ele entende que a bolsa já reflete o melhor cenário possível no julgamento e enxerga mais oportunidades na moeda brasileira e nas Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B)
* A vitória de Lula sim, "prejudicaria os ativos financeiros, que poderiam realizar fortemente em seguida"