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Cinco assuntos quentes para o Brasil hoje

Fernando Travaglini

24/01/2018 08h20

(Bloomberg) -- Após dias surfando no otimismo externo e apostando no 3x0 contra Lula no TRF4, os mercados foram tomados pela cautela na véspera e devem iniciar os negócios desta quarta-feira já com o julgamento, previsto para 8:30, em andamento. Dólar perde no exterior para quase todas as moedas e pode dar alívio à tensão doméstica. Em discurso duro na noite de ontem, em Porto Alegre, o ex-presidente disse que não precisa do mercado e fez críticas às privatizações. A decisão deve ter reflexos na eleição qualquer que seja o resultado, mas o futuro da candidatura Lula, que será registrada pelo PT de qualquer forma, ainda dependerá de caminhos jurídicos que devem desembocar no STF. Veja os destaques de hoje:

Lula versus TRF4

Começa às 8:30 o julgamento do recurso do ex-presidente Lula contra a condenação imposta por Sérgio Moro de nove anos e seis meses pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A manutenção da sentença ao fim do processo na 2ª instância impede uma candidatura pela lei da Ficha Limpa. O PT já disse, no entanto, que registrará o nome de Lula independentemente do resultado, apostando em discussões jurídicas no TSE e até no Supremo. Segundo O Globo, há oito anos em vigor, a lei não tem padrão de aplicação e o retrospecto de casos que guardam semelhanças com o de Lula apontam diferentes cenários para o futuro do petista. Analistas não descartam uma candidatura do ex-presidente, como a Eurasia.

Placar apertado ou goleada?

Pelas declarações de petistas e aliados, e até de analistas, se apenas um dos três desembargadores votarem a favor de Lula, o quadro já se mostrará favorável ao ex-presidente. Uma derrota por 2x1 já permite à defesa entrar com embargos infringentes, o que abre a possibilidade de um novo julgamento no mesmo tribunal e empurra a decisão final na 2ª instância para alguns meses à frente. Por conta das incertezas que cercam um caso como esse, e da proximidade cada vez maior das eleições, o mercado quer condenação unânime por 3x0, de preferência com penas iguais. Os investidores seguem apostando em condenação, mas analistas apontam riscos de volatilidade. As reações talvez sejam vistas hoje mesmo, uma vez que a expectativa é de conclusão no meio da tarde.

Lulinha paz e amor?

"Só uma coisa vai me tirar da política: o dia em que eu morrer", disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ato em Porto Alegre nesta terça-feira. Apesar dos acenos recentes de que faria uma nova carta aos brasileiros, em meio ao receio dos investidores com uma posição mais radical do ex-presidente, Lula elevou o tom ao dizer que não precisa do mercado e fez críticas às privatizações. O PT estimou um público em 70 mil pessoas; polícia não divulgou números. Participaram do ato a ex-presidente Dilma Rousseff ao lado das principais lideranças do PT, PCdoB e de movimentos sociais.

Cautela na véspera; dólar no exterior

A cautela prevaleceu nos mercados locais na véspera do julgamento e levou o dólar a superar os R$ 3,24, nas máximas da sessão, para fechar em alta pelo seguido dia, enquanto a bolsa perdeu o patamar de 81.000 pontos. Hoje, o mercado externo amanhece mais favorável, com dólar perdendo força contra maioria das demais moedas, diante do receio de aumento do protecionismo dos EUA e conflito de Trump com Congresso. Bolsas asiáticas, no entanto, interrompem rali, com iene forte pesando em Tóquio, e europeias em leve baixa após quatro altas seguidas. S&P futuro se sustenta. EUA divulgam estoque de petróleo, PMI e dado de moradias.

Reflexos para as eleições

O mundo político aguarda ansiosamente o resultado de hoje. Grande parte dos políticos como Temer e Doria disseram preferir que Lula seja derrotado nas urnas. O PSDB prevê presença forte do PT nas eleições, mesmo se Lula for condenado, e descarta outsiders, segundo reportagem do Valor. Premissa seria de que Lula, mesmo não podendo se candidatar, terá alto poder de transferir votos, colocando no páreo candidatos petistas alternativos como Jaques Wagner e Fernando Haddad. Exclusão de Lula ainda beneficiaria Ciro Gomes, do PDT, diz o jornal. É possível que Lula faça convites para conversas a Ciro, Manuela D'Ávila do PCdoB, e Guilherme Boulos do PSOL, diz Raymundo Costa, também no Valor.

--Com a colaboração de Davison Santana e Josue Leonel