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Mobius se aposenta e prevê mais recordes nos emergentes

Lilian Karunungan, Tom Mackenzie e David Ingles

26/01/2018 12h08

(Bloomberg) -- Após décadas como referência em investimentos em mercados emergentes, Mark Mobius se aposenta dizendo que o melhor está por vir.

O guru de 81 anos concedeu sua última entrevista de televisão antes de deixar a Franklin Templeton Investments, prevendo que as bolsas de países em desenvolvimento baterão mais recordes neste ano. Ele fez uma previsão parecida em dezembro, de que as ações de nações emergentes vão superar o pico atingido em 2007 em 20 por cento, mas na época não disse quando isso aconteceria.
"Veremos um mercado muito bom neste ano", disse Mobius em entrevista à Bloomberg Television. O crescimento dos lucros vai definir quais empresas de países emergentes irão bem em um ambiente de aumento dos juros globais, ele explicou.

Brasil, África, Vietnã e alguns países da América Latina são atraentes devido à exposição a commodities ou ao aumento dos gastos dos consumidores, de acordo com Mobius. Ele acha que investimentos relacionados a commodities vão registrar desempenho superior ao das ações de tecnologia, em parte porque têm sido menosprezados há um bom tempo. O MSCI Emerging Markets Index subiu pelo 11º pregão consecutivo nesta sexta-feira e caminha para o mais longo período de ganhos desde abril de 2015. O índice está aproximadamente 6 por cento abaixo do recorde atingido em 2007.

Às vésperas da aposentadoria de Mobius, levantamos algumas coisas pouco conhecidas sobre essa lenda dos mercados emergentes:

Acertando

Mobius fez algumas previsões prescientes sobre grandes movimentos dos mercados. Ele acertou ao prever o início de um longo período de ganhos em 2009, comprou ativos a preço de banana durante a crise financeira da Ásia (após a Tailândia adotar o câmbio flutuante, em 1997) e comprou ações da Rússia em meio ao pânico naquele mercado, em 1998. Ele foi um dos primeiros investidores institucionais a identificar a África como mercado de fronteira promissor e montou o Templeton Africa Fund, em 2012.
"A mudança verdadeiramente importante foi política - eles migraram de governos socialistas e ditatoriais para um modelo de economia de mercado e esta é a mudança mais incrível que vimos globalmente em todos os continentes e em quase todos os países", disse Mobius. "O processo ainda continua."

Mas nem sempre

Mobius também enfrentou tempos difíceis. No primeiro ano dele na Templeton, seu fundo perdeu um terço do valor no crash da bolsa de Nova York, em outubro de 1987. Foi então que ele decidiu diversificar seus ativos, que estavam em apenas cinco países asiáticos, partindo para mercados como Argentina, México, Indonésia e Rússia. Porém, o Templeton Developing Markets Trust, do qual ele foi cogestor entre 1991 e 2017, ficou atrás de 80 por cento de seus pares durante os últimos 15 anos, segundo dados da Morningstar.

Bico como pianista

Mobius nasceu em Hempstead, no Estado de Nova York. Seu pai era alemão e a mãe, de Porto Rico. Ele cresceu falando alemão e espanhol em casa. Em 1955, ganhou uma bolsa para estudar na Universidade de Boston e trabalhou como pianista de boate para ajudar a pagar as contas. Ele se formou em Artes e fez mestrado em Comunicação antes de concluir o doutorado em Economia e Ciência Política pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

A carteira de Mobius

Embora o último dia dele na firma seja em menos de uma semana, não será seu último dia como investidor. Ele até revelou a carteira modelo dele.

"Eu continuarei investindo. O que estou fazendo em primeiro lugar é manter cerca de 20 por cento em dinheiro porque os mercados estão lá em cima. Talvez seja bom aproveitar uma queda. E então colocar metade do resto em mercados emergentes em geral e a outra metade em empresas voltadas para commodities."

--Com a colaboração de Sebastian Tong Ben Bartenstein Charles Stein Emma O'Brien e Karolina Miziolek