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Diversidade preocupa conselhos de empresas do Reino Unido

David Hellier, Ruth David e Thomas Buckley

29/01/2018 16h24

(Bloomberg) -- Em novembro, quando o cofundador de um grupo de comunicações de Londres foi convidado a fazer uma apresentação de negócios para uma empresa de Wall Street, a oferta veio com uma exigência incomum.

O documento explicava que 15 por cento da pontuação da apresentação dependeria de a empresa conseguir comprovar seu compromisso com a diversidade e a inclusão, disse Iain Anderson, da Cicero Group.

"Nunca tinha visto uma medida tão dura", disse Anderson em entrevista. "Era impossível ver algo assim quantificado dessa forma, nem sequer há cinco anos."

Grandes empresas, pressionadas para aumentar a diversidade em seus próprios conselhos e em cargos seniores, estão tentando transmitir essa prática para quem recebe o dinheiro delas, segundo entrevistas com executivos e diretores independentes. Eles querem mais diversidade de seus assessores financeiros, banqueiros, advogados, consultores de relações públicas e auditores - e todos também estão sendo pressionados para se tornarem mais inclusivos.

A Diageo, a maior destilaria do mundo e proprietária do uísque Johnnie Walker, é uma das que estão promovendo as mudanças.

"Quando vou para uma apresentação de serviços bancários ou contábeis, sempre pergunto sobre a diversidade da equipe", disse a diretora financeira da Diageo, Kathryn Mikells, que entrou na empresa em 2015. A Diageo conta com quatro mulheres no conselho, composto por dez pessoas.

Debate

As iniciativas chegam em um momento em que o debate sobre a diversidade e a conduta no local de trabalho está no centro das atenções. Homens poderosos foram demitidos da mídia, da comunidade acadêmica e da política desde o escândalo envolvendo Harvey Weinstein, mas a comunidade financeira - terra de bancos e escritórios de advocacia que obtêm grande parte de sua renda com a assessoria corporativa - permaneceu praticamente incólume.

Isso poderia mudar. Uma matéria do Financial Times publicada na semana passada expôs um evento de arrecadação de fundos exclusivo para homens em Londres onde supostamente as anfitriãs foram assediadas, agarradas e insultadas. Várias empresas afirmaram que romperiam seus vínculos com o evento e o clube que organizou o jantar foi desmembrado.

Foi só em 2011 que o governo britânico começou a formalizar as iniciativas para aumentar a diversidade na comunidade empresarial. Os legisladores não chegaram a fixar cotas, mas expuseram o problema com uma série de relatórios sobre as maiores empresas do país.

Minorias

Outras iniciativas estão tentando acompanhar o ritmo. Em outubro, o comitê Parker Review publicou seu primeiro relatório sobre diversidade étnica nos conselhos britânicos. De um total de 1.050 cargos de diretoria, os diretores de cor representavam apenas 8 por cento, frente a 14 por cento da população geral. Mais de metade das empresas no FTSE 100 não tinham minorias étnicas em seu conselho, e somente seis tinham alguma nas posições de presidente ou CEO.

Os objetivos dessa avaliação são menos ambiciosos: todo conselho da FTSE 100 deveria ter pelo menos um diretor de uma minoria étnica até 2021.

"As coisas estão mudando rapidamente", disse Anderson. "Mas será que a diversidade está influindo nas decisões? Isso ainda não está claro."