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'Nova conta na Suíça', criptomoedas provocam reações de governos

Rob Urban

29/01/2018 16h27

(Bloomberg) -- Autoridades de todo o mundo temem que as criptomoedas possam se transformar em paraísos fiscais.

Tarde demais. Isso já está acontecendo.

Veja o exemplo de David Drake, cujo family office com sede em Nova York tem mais de US$ 10 milhões em investimentos em criptomoedas e blockchain. Ele está usando o dinheiro digital como uma conta bancária offshore -- um lugar para guardar legalmente lucros de negócios no exterior e reduzir impostos nos EUA.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, estão entre os líderes mundiais que alertaram em relação à ascensão do dinheiro virtual para a transferência de recursos ao exterior. O Congresso dos EUA realizou audiências neste mês e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, pediu que as 20 maiores economias do mundo trabalhem juntas para garantir que as criptomoedas não se "transformem na nova conta bancária na Suíça". A preocupação surge após o sucesso da repressão internacional aos paraísos fiscais nos bancos tradicionais.

"Todos os países estão tentando encontrar uma resposta", disse Drake, que atua nos conselhos de 25 empresas públicas e privadas. "É preciso que haja uma estrutura regulada que não mate o setor."

Os primeiros adeptos da prática foram criminosos, e o envolvimento deles vem aumentando de forma constante, segundo um estudo de três anos da Fundação para a Defesa das Democracias, um think tank apartidário de Washington. Depois vieram usuários como Drake, que diz respeitar a lei dos EUA ao divulgar os ativos de suas empresas. Drake disse que uma supervisão melhor ajudaria a legitimar o setor.

Demanda crescente

Há demanda por novas formas de esconder ativos depois que reguladores americanos e europeus passaram a reprimir os bancos tradicionais. Eles ampliaram a aplicação de regras do tipo "conheça seu cliente" e de combate à lavagem de dinheiro e forçaram as instituições financeiras offshore a divulgar informações sobre os clientes. A campanha levou muitas instituições financeiras a limitar o acesso dos clientes ao sigiloso sistema bancário da Suíça. Isso dificultou a ocultação de recursos de governos, tribunais, cônjuges e de outros olhos curiosos em seus países.

As bolsas de criptomoedas estão cobertas pelas regras, mas a aplicação da lei não tem sido consistente, em particular fora dos EUA.

O uso de dinheiro virtual para armazenar ativos no exterior está evoluindo rapidamente com a introdução das chamadas moedas de privacidade, como ZCash e Monero, que usam métodos como a criptografia para torná-las indetectáveis. Cerca de US$ 10 trilhões são mantidos offshore em todo o mundo, segundo a Grayscale Investments, firma com sede em Nova York que oferece um ZCash Trust aos investidores. O ZCash poderia capturar até 10 por cento desse total até 2025, disse Matthew Beck, da Grayscale.

"É a primeira vez que qualquer pessoa do mundo pode guardar dinheiro de forma privada e ser seu próprio banco", disse Beck. "A privacidade é um recurso que está escasseando e pelo qual as empresas estarão dispostas a pagar."

O ZCash promove a impenetrabilidade de sua tecnologia de criptografia, mas Beck argumenta que a supervisão do governo ainda é necessária.

"Não acreditamos que este ecossistema possa crescer sem regulação", disse Beck.

O bitcoin, a mais popular das criptomoedas, é anônimo, mas pode ser rastreado, e o livro-razão público e eletrônico chamado blockchain mantém registros de todas as transações. O que se revela sobre compradores e vendedores são apenas séries de letras e números, mas os órgãos de fiscalização desenvolveram tecnologias para rastrear e confiscar bitcoins ilícitos.

Título em inglês:
Crypto as 'Next Swiss Bank Account' Sends Governments Scrambling