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Graças a Trump, robôs produzirão porção maior do leite dos EUA

Lydia Mulvany

30/01/2018 13h46

(Bloomberg) -- Os robôs estão chegando -- desta vez, às fazendas leiteiras dos EUA.

Pouco tempo atrás, o uso de robôs para ordenha de vacas era novidade nos EUA, mas hoje a automação está aparecendo em mais fazendas. Um dos grandes fatores por trás dessa tendência é que mais da metade da mão de obra das fazendas leiteiras é imigrante, e a política linha-dura do governo Trump sinaliza que os trabalhadores poderão ter ainda mais dificuldades para chegar aos campos. Os robôs são capazes de reduzir em 50 por cento o número de trabalhadores em uma fazenda leiteira.

Além das preocupações com a mão de obra, o crédito barato e as melhorias tecnológicas estão ajudando a inclinar a balança a favor dos robôs nas fazendas leiteiras, disse Mark Stephenson, diretor de análises de políticas leiteiras da Universidade de Wisconsin-Madison.

"Há inclusive pessoas que trabalharam por anos em algumas fazendas e que foram embora por medo de serem descobertas na condição de ilegais", disse Stephenson, por telefone. "Ninguém quer acordar um dia com mil vacas para ordenhar e sem ninguém para fazer o trabalho."

Atualmente, menos de 5 por cento das fazendas leiteiras dos EUA usam robôs. O número provavelmente aumentará em 20 por cento a 30 por cento por ano no futuro próximo, segundo Chad Huyser, vice-presidente para a América do Norte da Lely, uma fabricante de robôs para ordenha com sede em Pella, Iowa. Em todo o mundo, os robôs para fazendas leiteiras já representam um setor de US$ 1,6 bilhão, número que continuará crescendo, segundo relatório de janeiro da empresa de pesquisas de mercado IDTechEx.

60 vacas por dia

Os primeiros modelos de robôs ordenhadores de vacas não funcionavam muito bem, mas agora a tecnologia se tornou acessível e confiável, disse Stephenson. Os robôs trabalham acoplando equipamentos aos úberes das vacas, ordenhando e limpando os animais. Com um dos modelos mais populares, as vacas caminham até uma baia para serem ordenhadas quando queiram, e um robô opera em 60 animais por dia. A mecanização está aparecendo também de outras formas, com robôs móveis que empurram a ração e limpam a área depois que os animais saem.

Essa modernização é cara. Uma unidade robótica pode custar algumas centenas de milhares de dólares, segundo Marcia Endres, professora de ciências do leite da Universidade de Minnesota, que preparou modelos econômicos para robôs de ordenha. Ainda assim, se a máquina dura em torno de 15 anos e o custo total do fazendeiro por trabalhador é de US$ 25 a US$ 30 por hora, o investimento de quem instala a tecnologia acaba compensando, estimou.

Com a discussão promovida pela Casa Branca a respeito da construção de um muro dividindo o México e os EUA, e o impasse em relação à imigração no Congresso americano, que recentemente fechou o governo por três dias, existe o temor de que a tradicional força de trabalho agrícola dos trabalhadores imigrantes, incluindo os ilegais, possa diminuir ainda mais. No início do mês, o dono de uma fazenda leiteira de Michigan foi condenado a dois anos de prisão por contratar imigrantes ilegais.

As vacas costumam gostar do estilo de vida robótico. Os animais ganham certa autonomia e deixam de ser interrompidos o tempo todo pelos humanos, disse Matt Gould, editor do boletim informativo "Dairy & Food Market Analyst" na Filadélfia. Uma das consequências é o surgimento de comportamentos mais naturais no rebanho de vacas, que começam, por exemplo, a lamber umas às outras.