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G-20 se reúne em meio a risco de superaquecimento global

Enda Curran e Richard Miller

16/03/2018 14h29

(Bloomberg) -- A economia mundial corre o risco de crescer rápido demais e sofrer um revés.

Ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 se reúnem na semana que vem na Argentina, em meio ao maior e mais amplo avanço da atividade econômica desde 2011. Os cortes de impostos encabeçados pelo presidente americano, Donald Trump, dão mais combustível ao movimento. As autoridades se encontrarão dias após a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) subir a previsão para o crescimento global para 3,9 por cento neste ano e no próximo.

Para os formuladores de políticas públicas e para investidores, as principais perguntas são: O mundo pode crescer mais rápido do que isso? Isso é desejável diante da possibilidade de superaquecimento e disparada da inflação, seguidos de outro tombo da economia mundial?

A expansão global só se igualou ou superou o ritmo de 3,9 por cento oito vezes desde 1990. O HSBC Holdings ressalta que todos os movimentos sincronizados de avanço desde então foram seguidos de um grande choque. O pico de 5,6 por cento em 2007 deu lugar à crise financeira no ano seguinte.

"Quando muitos países estão crescendo com força, a economia global está em sua posição mais vulnerável, devido aos riscos maiores em termos de juros e finanças", disse Stephen King, assessor econômico sênior do HSBC.

Em estudo sobre 50 economias publicado no mês passado, King observou que a recessão marcada pelo aperto de crédito nos EUA em 1990 veio depois de um período de demanda global robusta. Ele também lembrou que os mercados de renda fixa desabaram em 1994, após uma fase de rápido crescimento. O próximo período de grande crescimento foi em 1997, logo antes da crise da Ásia. Depois veio a fase de otimismo que durou de 2004 a 2007 e desembocou na pior recessão nos EUA desde a Grande Depressão.

Há sinais de que o nível de atividade está próximo do topo: o Federal Reserve e outros bancos centrais apertam a política monetária, a China limita a concessão de empréstimos e Trump implementa tarifas de importação. Segundo cálculos do Citigroup, o atual grau de decepção com os indicadores das principais economias é o maior desde setembro.

"Embora o sol ainda esteja brilhando para a economia global, há mais nuvens no horizonte", afirmou a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em texto publicado na internet para autoridades do G-20. "Pensem no aumento das preocupações com tensões comerciais, na recente disparada da volatilidade nos mercados financeiros e na geopolítica mais incerta."

O medo de uma guerra comercial estará no topo da agenda de discussões em Buenos Aires. A Bloomberg Economics estima que esse desdobramento poderia sugar US$ 470 bilhões da economia mundial até 2020.

Os investidores aparentam calma, por enquanto. As bolsas globais foram abaladas em janeiro pela perspectiva de uma aceleração da inflação nos EUA forçar uma reação dos bancos centrais. Porém, dados divulgados desde então mostram que as pressões sobre os preços permanecem contidas, ainda que as empresas estejam dando continuidade às contratações de funcionários.

"O superaquecimento -- na forma de aumento acentuado na inflação - ainda está distante" nos EUA, avaliou Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais.

Em relatório enviado a clientes da Nomura Holdings na quinta-feira, o economista Andrew Cates escreveu que há "escopo de sobra para amadurecimento deste ciclo" porque a diminuição da ociosidade nos mercados de trabalho e o fortalecimento da demanda devem estimular investimentos pelas empresas e aumento da produtividade, permitindo que a expansão global continue.

No entanto, podem surgir problemas no futuro.

Os cortes de impostos e o aumento dos gastos públicos nos EUA incentivam a demanda, mas podem fazer com que o Fed suba os juros de modo mais agressivo do que as autoridades planejam atualmente e, consequentemente, crie o risco de outro colapso dos mercados. A taxa de desemprego nos EUA bateu nos 4,1 por cento e pode cair ainda mais.