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Tradings de trigo francesas temem perder mercado para Rússia

Isis Almeida

22/03/2018 14h03

(Bloomberg) -- As perspectivas das exportações francesas de trigo continuam sombrias.

Depois de perder participação de mercado para a Rússia, principal exportadora do grão, em muitos compradores tradicionais da França na África subsaariana, as tradings francesas agora temem perder terreno na Argélia, sua maior cliente. O grão russo ainda não tem a qualidade exigida pelo país do Norte da África, mas as tradings que participam da conferência France Export Cereales, em Paris, temem que a perda do mercado possa ser apenas questão de tempo.

Se a Rússia entrar no mercado argelino "as consequências serão muito ruins" para as exportações francesas, disse Jean-François Loiseau, presidente da Axereal, a maior cooperativa de grãos da França, em entrevista no evento, na quarta-feira. "A Argélia é parceira e cliente histórica."

A França perdeu participação em países como Marrocos, Camarões e Senegal após a péssima safra de 2016-2017, que derrubou os rendimentos para o menor patamar em três décadas. Com isso, o país ficou ainda mais dependente da Argélia quando sua produção se recuperou. O país do Norte da África comprou mais de 50 por cento das exportações de trigo da França nos oito primeiros meses da safra atual, segundo o escritório de agricultura FranceAgriMer.

As exportações da França para a Argélia também têm enfrentado a concorrência da Argentina nos últimos anos, já que o país sul-americano ampliou as vendas após cancelar impostos à exportação. O euro valorizado tem representado mais um obstáculo, porque reduz a atratividade dos grãos europeus.

"Tivemos esta perda de competitividade devido ao valor do euro frente ao dólar", disse Fouzia Smouhi, diretora da cooperativa Cerevia, em entrevista no evento de Paris. "O preço é sempre importante."

Participação menor

O trigo francês respondeu por apenas 8 por cento das importações do Marrocos na safra 2016-2017, contra 66 por cento um ano antes, segundo a France Export Cereals, um grupo de lobby que promove o grão francês no exterior. A participação nesta temporada, até dezembro, ainda está relativamente baixa, em 35 por cento.

O domínio da França nos mercados da África Ocidental também está sendo desafiado.

No Senegal, a Olam International passou a adquirir apenas trigo russo na safra 2016-2017, segundo Imad Talil, chefe regional de moagem. Antes disso, a companhia comprava 80 por cento dos suprimentos da França e o restante, do Canadá. A firma, uma das maiores tradings de alimentos do mundo, também testou o trigo russo em moinhos da Nigéria, de Gana e de Camarões, disse ele em Paris.

"Comparando os preços, a escolha é fácil", disse Richard Chamcham, diretor de desenvolvimento da federação nacional de moagem do Marrocos.

A França precisa reduzir os preços de seu trigo em 10 a 15 euros (US$ 12 a US$ 18,50) por tonelada para competir melhor nos mercados globais, disse Loiseau, da Axereal. O Egito e a Argélia estão usando leilões para comprar seus grãos e encontrando ofertas mais baratas de qualidade equivalente, disse.

Apesar do sucesso na promoção de seu grão no exterior, é provável que a Rússia não tenha planos de chegar a destinos específicos, disse Maria Mozgovaya, trader da Louis Dreyfus. A Argélia não deve alterar suas especificações para o trigo, mas a Rússia pode aprender a produzir grãos que atendam a exigência, disse Jean-Pierre Langlois-Berthelot, presidente da France Export Cereales.

"Haverá risco no dia em que eles puderem entregar com as especificações de hoje", disse.