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Usina de resíduos pode virar atração turística em Copenhague

Jennifer Parker

22/03/2018 13h16

(Bloomberg) -- É um dia de inverno com ventos na Dinamarca, no topo de um dos prédios mais altos de Copenhague. O edifício Amager Bakke, ou "Copenhill", como dizem os moradores locais, construído por US$ 660 milhões pelo arquiteto Bjarke Ingels, se destaca por muitas razões -- entre elas, não menos importante, porque deve contar com a primeira pista de esqui da cidade quando for inaugurado no outono (Hemisfério Norte).

Mas o Copenhill é mais do que uma pista de esqui. Ele tem uma parede de escalada artificial de 84 metros de altura, um restaurante completo e um bar para esquiadores cercado por trilhas arborizadas. E muito mais: a enorme e geométrica cunha de painéis prateados de alumínio e vidro tem também outra função, estranha, pois é uma das plantas de transformação de resíduos em energia mais avançadas do mundo. Assim como alterou a paisagem em Copenhague, o edifício pode muito bem ter redefinido a sustentabilidade urbana em nível global.

Para os dinamarqueses, essa é a joia da coroa do esforço da capital para se tornar a primeira cidade do mundo neutra em carbono até 2025.

É uma "meta muito ambiciosa... mas que está bem encaminhada", diz o prefeito Frank Jensen à Bloomberg. "Nossas emissões de CO2 caíram 33 por cento desde 2005." Quando estiver ativa, a nova usina poderá queimar a colossal quantidade de 35 toneladas de resíduos por hora -- e cortar as emissões em 99,5 por cento.

Em certo sentido, porém, a cidade já se tornou ecológica até demais.

Graças aos programas modernos de reciclagem, não há lixo suficiente em toda a Dinamarca para encher suas 28 usinas, incluindo Copenhill. "Temos um excesso de capacidade de incineração e a regulação da UE dificulta a importação de mais resíduos de outras cidades", diz Jensen. Isso gera a pergunta: por que então se preocupar em construir Copenhill?

Segundo Jorgen Abildgaard, diretor-executivo de projetos climáticos de Copenhague, alcançar os ganhos necessários em eficiência exigia uma estrutura descomunal. (Para cumprir sua meta para 2025 Copenhague precisa remover 928.000 toneladas de dióxido de carbono da atmosfera; a Amager Bakke estima que a usina removerá 33.000 toneladas.) Aqui, graças à filtração catalítica de última geração, nunca antes usada na Dinamarca, a incineração é quase livre de poluição. Em outras plantas, a fumaça proveniente da mesma quantidade de lixo seria tóxica. Mas toda essa tecnologia ocupa espaço, e esse espaço teve um preço igualmente descomunal: US$ 660 milhões.

Por isso a cidade está recorrendo ao turismo -- que gera mais de US$ 6,5 bilhões em receita por ano -- para tornar a usina economicamente viável. Esta é uma das razões para sua localização central, dentro dos limites da cidade. Se sua linha de pesca for forte o bastante, você pode atirá-la de Copenhill e acertar a Opera House. Além disso, o prédio fica a apenas 13 minutos do aeroporto, o que o torna imperdível, mesmo para visitantes de primeira viagem. Viena conseguiu uma façanha semelhante com sua planta Spittelau, criada em 1992 pelo "ecoarquiteto" Friedensreich Hundertwasser em um marco artístico colorido e bizarro. O equipamento atrai mais de 100.000 visitantes por ano para o centro educacional "mundo de energia".

Copenhill representa um teste notável para o futuro da ecologia urbana. "Quero que meus colegas de outras cidades saibam que a incineração de resíduos funciona; a tecnologia está à disposição", disse Jensen. "Além do mais, isso é muito bom para a economia."