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Gestores sofisticados duvidam da recuperação das bolsas nos EUA

Cecile Gutscher e Dani Burger

27/03/2018 18h24

(Bloomberg) -- O governo americano pareceu retroceder na marcha para uma guerra comercial, mas investidores do mercado de crédito se mantiveram distantes do movimento de ganhos das bolsas da Ásia e Europa e do alívio que levou o S&P 500 à maior alta diária desde agosto de 2015. O alívio veio depois que o presidente Donald Trump postou no Twitter que "todos ficarão felizes!" com o desfecho nas negociações comerciais.

Os títulos corporativos, considerados indicadores antecedentes da direção das bolsas, sugerem ceticismo em relação à valorização das ações. Alguns indicadores do mercado acionário sinalizam a mesma coisa, levantando a possibilidade de a escalada atual ser temporária e não uma recuperação duradoura.

"Achamos que a disparada por alívio no mercado acionário ocorreu somente por causa da queda intensa" que ocorreu antes, escreveu Naeem Aslam, analista-chefe de mercados da TF Global Markets, em Londres. "É como o espasmo de um bicho morto. Se os fundamentos subjacentes não forem tratados, pode haver novas perdas."

Segundo notícias veiculadas na noite de segunda-feira, o governo dos EUA propõe que a China reduza tarifas sobre automóveis e abra o setor de serviços financeiros como parte das negociações para solucionar divergências comerciais. Essas medidas ajudariam a evitar a imposição de US$ 50 bilhões em tarifas sobre produtos exportados para os EUA. Isso deu impulso ao processo de recuperação das bolsas.

No entanto, métricas de volatilidade e risco de inadimplência das empresas permanecem elevadas. O salto das bolsas ontem não convenceu os pessimistas.

No mercado de crédito, os investidores "estão esperando para ter certeza de que está tudo bem", disse Juan Esteban Valencia, estrategista-chefe de crédito do Société Générale, em Paris. "Se surgir a percepção de menos tensão comercial, os spreads de crédito seguirão o mercado acionário nos próximos dias."

Por ora, semanas de aumento nas tensões em torno do comércio internacional deixaram os investidores do mercado de crédito preocupados, ainda mais com o dilúvio de novas emissões de títulos corporativos da Europa, somando 81 bilhões de euros (US$ 100 bilhões). Segundo Valencia, o cenário deu suporte a prêmios de risco maiores, mas pode haver melhora se EUA e China evitarem a troca de farpas.

Retomada volátil

Mesmo com o recuo do índice de volatilidade VIX, os derivativos mostram que as preocupações não diminuíram. Na curva futura do VIX (que acompanha a volatilidade implícita no S&P 500 ao longo do tempo), os contratos que terminam em março estão mais caros do que os contratos que vencem em abril e assim por diante. Ou seja, ainda há estresse no mercado e, apesar da valorização das ações globais, os investidores estão pagando para apostar em outra onda de volatilidade no curto prazo.

Os gestores de recursos mais sofisticados não se mostraram dispostos a comprar ações na segunda-feira, a julgar pelo Smart Money Flow Index, que acompanha as oscilações do Dow Jones Industrial Average nos primeiros e últimos 30 minutos de cada pregão.

Esses investidores testam o mercado e esperam até o fim do dia para assumir grandes compromissos. O índice está próximo do menor patamar em dois anos e só subiu 1,2 por cento na segunda-feira, enquanto o Dow avançou 2,8 por cento.