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Jaguar Land Rover mantém aposta no Brasil com retomada de vendas

Leonardo Lara e Christiana Sciaudone

14/05/2018 06h00

(Bloomberg) -- Com uma fábrica inaugurada há dois anos no Brasil e capacidade para entregar 24.000 automóveis por ano, a Jaguar Land Rover viu sair de suas linhas de produção pouco menos de 5.000 unidades em 2017. Ainda assim, Frédéric Drouin, diretor presidente do grupo para América Latina e Caribe, diz que não trabalha com a possibilidade de fechamento da fábrica, reafirma sua confiança e diz ter "fé" no Brasil.

A decisão de instalar a fábrica de R$ 750 milhões na cidade de Itatiaia, no Rio de Janeiro, foi resultado do incentivo do Inovar-Auto para que montadoras investissem no Brasil em troca de benefícios em relação à tributação dos modelos importados e também da visão da unidade britânica da indiana Tata Motors, em 2014, de que o segmento de veículos premium cresceria à frente, relembra Drouin durante entrevista no escritório do grupo em São Paulo. Mas o mercado automotivo local como um todo viu as vendas afundarem em 2015 e 2016, movimento que foi sentido pelo segmento onde está a Jaguar Land Rover.

"Além do Inovar-Auto, a decisão sobre a fábrica foi tomada com um patamar de mercado muito maior, com o mercado premium vendendo em torno de 60.000 carros por ano e no ano passado encolhemos para 45.000, explicou Drouin, acrescentando que na época da tomada de decisão, a previsão usada como base era de que "rapidamente o mercado premium chegaria a 100.000 carros, justificando a fábrica aqui e a capacidade para produzir cerca de 20.000 veículos por ano".

A incipiente recuperação vista nas vendas gerais de automóveis em 2017 foi um pouco mais atrasada no mercado dos premium porque, segundo Drouin, o término do Inovar-Auto em dezembro passado trouxe dúvidas aos consumidores sobre uma eventual mudança na tributação dos importados, levando as pessoas a esperarem por uma possível redução nos preços dos carros, o que não aconteceu. "Com isso, a demanda que estava um pouco reprimida começou a voltar no início de 2018".

Para este ano, se forem mantidos os níveis de vendas verificados nos primeiros quatro meses do ano, o mercado premium conseguirá recuperar o patamar de 2014, disse Drouin, acrescentando que o segmento, que representa em torno de 2,4% do total de carros vendidos no Brasil, tem grande potencial se comparado com outros mercados premium, como os mais de 3% no México e os 10% na Europa. "Isso mostra que o percentual do mercado premium ainda é muito pequeno".

O executivo diz que existe mercado consumidor "para vender tantos carros premium no Brasil, mas isso está muito ligado com a carga tributária, a violência ou ao combate à violência, para que os consumidores que tenham capacidade de comprar, que têm vontade, realmente façam isso", explica. "Aí o mercado vai sustentar operação industrial como a que temos hoje".

Mas Drouin não se arrisca em fazer projeções ou apostas para além de 2018 por conta do cenário eleitoral, ainda "muito aberto" em termos de candidaturas, e da indefinição da política industrial para o setor. "Fica muito complicado fazer previsões além de 2018 sem ter esse elemento fundamental das eleições e do Rota 2030. Uma vez que isso se defina, teremos um cenário um pouco mais claro e aí poderemos fazer previsão."

Drouin descarta, no curto prazo, buscar mercados externos na região sob sua administração para ampliar a produção da fábrica de Itatiaia. Ele explica que o percentual de componentes feitos no Brasil exigido em algumas regras com mercados vizinhos é "muito mais elevado" do que a nacionalização atingida pelas marcas premium. "Isso faz esse cenário de exportação um pouco mais complicado para as marcas premium do que para as marcas de volume, que saíram um pouco da crise via exportação".

"Vou dizer que se você não confia no Brasil é melhor sair logo, porque no Brasil você sempre tem que confiar e nunca perder a fé no país", disse Drouin. "Acho que se você olhar os últimos anos o Brasil foi considerado sempre como país do futuro, foi por pouco tempo o país do presente, virou por alguns anos o país do passado. E esperamos voltar a ser o país do futuro e do presente. Vai depender do cenário político", explica ele, acrescentando que "o Brasil tem tudo para ter sucesso".