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Baby Boomers ricos não querem mais sair do quarto principal

James Tarmy

18/05/2018 14h50

(Bloomberg) -- Há dez anos, a designer de interiores Rela Gleason enfrentou um dilema quando começou a construir sua própria casa no Vale de Napa, na Califórnia.

"Nós tínhamos filhos e netos, mas eles só estariam lá por um período de tempo pequeno", diz Gleason.

Ela e o marido queriam uma casa que pudesse acomodar toda a família, que estava crescendo. "Mas, por outro lado", diz ela, "não queríamos morar em uma casa grande e passar por muitos cômodos vazios que pareceriam solitários" quando a família não estivesse lá.

A solução foi construir uma casa de 930 metros quadrados com pavilhões independentes. "Queríamos lugares de convivência amplos e espaços - eu queria uma grande sala familiar para que, quando a família estivesse lá, pudéssemos estar todos juntos", diz ela. "Mas moramos basicamente na suíte principal e na cozinha."

Muitos baby boomers afluentes se encontram em uma situação similar: os filhos já saíram de casa, mas por alguma razão - a necessidade de receber visitas de vez em quando ou simplesmente a relutância em se desfazer de seus pertences - eles não querem reduzir a escala e estão se refugiando em grandes suítes elaboradas que são uma espécie de apartamento dentro de uma casa muito maior.

Mudança no estilo de vida

"Estamos observando uma evolução do modo como as pessoas vivem", diz Michael Graves, corretor da Douglas Elliman Real Estate. "Talvez 20 ou 30 anos atrás, você só iria para o quarto na hora de dormir. Mas agora a função do quarto principal mudou, ele se tornou também um espaço para estar."

Em uma casa de US$ 11,8 milhões no Upper East Side que Graves representa com o corretor Justin Rubinstein, a suíte principal ocupa todo o andar superior. "Você pode passar a tarde toda lá", diz ele.

Não há dados concretos sobre a prevalência dessas suítes nem sobre como as pessoas as utilizam, por isso as informações são informais. Mas, a partir de conversas com importantes corretores dos EUA, a tendência parece estar presente em todo o país.

"Eu tenho visto cada vez mais", diz Jill Shore, corretora da Douglas Elliman em Aspen, no Colorado. "Antigamente, ter uma geladeira no quarto era uma grande coisa."

"Acho que as salas de estar são o oposto do que o nome diz, porque ninguém mais está nelas", continua Shore. "As pessoas constroem cômodos aconchegantes na cozinha ou no quarto principal, porque é lá onde todos se reúnem, enquanto a sala de estar junta poeira."

Dificuldade para se desprender

Há certa ironia no fato de que baby boomers com casas gigantescas tenham começado a morar em suítes do tamanho de um apartamento de solteiro no Brooklyn. Ainda mais porque este é um recurso usado quase exclusivamente por gente muito rica.

Mas, do ponto de vista de Gleason, a proprietária de uma casa no Vale de Napa, é compreensível. "Nós realmente precisamos de muito pouco e preferimos espaços mais íntimos", diz ela. "Mas quando você vem de uma residência grande, é difícil, psicologicamente, abrir mão da sensação de morar em um lugar grande."