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Google, LVMH e a commodity mais preciosa do mercado acionário

Lu Wang

06/06/2018 15h40

(Bloomberg) -- Pode soar estranha a ligação entre gigantes de tecnologia dos EUA e fabricantes de produtos de luxo da Europa. Mas o Goldman Sachs enxerga um paralelo ? que mostra uma mudança fundamental na visão que os investidores têm do mercado acionário.

Há quem diga que é uma fuga na direção de ativos de qualidade. Não a tão esperada migração para ações de setores defensivos, mas para ações de empresas que se distinguem pelo crescimento dos lucros acima da média. Como evidência da evolução das preferências dos investidores, os estrategistas Peter Oppenheimer e Guillaume Jaisson destacaram a maior sincronicidade dos movimentos de valorização de papéis de máquinas de lucros como a dona do Google e a fabricante das bolsas Louis Vuitton.

A corrida na direção de companhias com crescimento acelerado é um fenômeno relativamente novo. Durante anos, havia pouca diferenciação entre boas e más empresas. A mudança de gosto também foi identificada por um analista do Deutsche Bank, Luke Templeman, que descobriu que a desconexão entre preços de ações e lucratividade está se desfazendo lentamente.

"Parece que a diferença entre fundamentos e taxas de retorno no mercado finalmente está se normalizando", escreveu Templeman em relatório divulgado na segunda-feira. "A reconexão enfim está a topo vapor."

As gigantes de tecnologia do grupo conhecido pela sigla FANG (Facebook, Apple, Netflix e Google) são porta-estandartes do mercado acionário, com alta de 54 por cento no último ano. A LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton recebe menos atenção, mas a ação saltou 40 por cento. A Kering, dona da marca Gucci, acumula ganho de 83 por cento. Enquanto isso, o MSCIWorld All-Country Index subiu 10 por cento.

Mas e a teoria de que os otimistas sempre apostam nas empresas de maior crescimento? Isso acontece em períodos normais e essa distinção não importou muito para o mercado nos últimos tempos.

Para demonstrar isso, analistas do Deutsche Bank criaram um modelo para medir quanto a lucratividade é correlacionada com o desempenho das ações. O banco comparou a dispersão das taxas de retorno das ações e o retorno sobre o patrimônio das empresas. A conclusão é que, em períodos normais, as duas linhas ficam próximas ? ou seja, lucros e preços das ações se movem juntos. No entanto, nos sete anos desde o fim da crise financeira global, a diferença se ampliou mais e mais. Os preços das ações se distanciaram consistentemente dos fundamentos das empresas. A tendência começou a se reverter em meados de 2016, o que o Deutsche Bank atribuiu ao aumento dos juros. O pico do deslocamento coincidiu com o ponto mínimo dos rendimentos dos títulos.

Faz sentido os investidores ficarem mais inclinados a separar o joio do trigo quando os juros sobem. Afinal, boas e más empresas parecem atraentes como investimento quando o mercado está inundado por liquidez. É quando os juros começam a aumentar que as más companhias têm dificuldade para manter a cabeça fora d'água.

Com a desaceleração da economia, as previsões indicam que apenas um quinto das integrantes do MSCI World Index terá crescimento dos lucros de 15 por cento ou mais dentro de três anos. É a menor projeção desde pelo menos 1998, segundo dados compilados pelo Goldman Sachs.

As companhias americanas de tecnologia com valor de mercado astronômico se sobressaem. A expectativa é que os lucros das cinco maiores ? Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e Alphabet (dona do Google) ? aumentem 20 por cento neste ano e 15 por cento em 2019. A título de comparação, a projeção para as demais integrantes do S&P 500 é de 4 por cento em cada ano, de acordo com dados compilados pelo Goldman Sachs. Essas companhias sustentam a expansão dos lucros por que conseguem manter a concorrência longe e margens de lucro dobradas.

As marcas de luxo da Europa não chegam nem perto em termos de tamanho, mas o panorama de crescimento dos lucros é similar. No caso da LVMH, a previsão é de aumento de 13 por cento neste ano, o dobro do projetado pelos analistas para as componentes do Dow Jones Stoxx 600 Index.

"É um dos poucos setores que a Europa 'domina' e a visão é que há poucos substitutos", afirmaram Oppenheimer e Jaisson no relatório divulgado no início desta semana. "Assim como no setor de tecnologia, o sucesso dos últimos anos foi, em grande medida, motivado pelo genuíno crescimento dos lucros."