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Juros baixos pós-crise deixaram ricos mais ricos, afirma Nordea

Frances Schwartzkopff

07/06/2018 13h00

(Bloomberg) -- A nova chefe global de pesquisa macroeconômica do Nordea Bank afirma que agora ficou claro que as taxas de juros historicamente baixas registradas após a crise financeira global provocaram "ganhos de riqueza" para os ricos, enquanto outros ficaram mais endividados.

Kristin Magnusson Bernard, que trabalhava com estabilidade financeira no Banco Central Europeu, diz que, por causa das lições aprendidas com a redução das taxas de juros a pisos recorde, os responsáveis pelas políticas poderiam procurar novas ferramentas para apoiar as economias no futuro.

Embora os executivos dos bancos centrais tenham exibido uma "criatividade notável" durante a crise financeira, eles poderiam apresentar "mais algumas" ideias, disse Bernard, em entrevista por telefone.

"Talvez seja possível sustentar as economias um pouco mais e talvez seja possível manter os mercados em alta, mas a que preço?", disse Bernard. "Haverá muitas extensões de crédito para as famílias mais fracas, mas também haverá muitos ganhos de riqueza para os ricos e, em algum momento, essa discussão começa a doer."

Nenhum lugar do mundo teve taxas negativas por mais tempo do que a região nórdica, sendo que a Dinamarca se destaca como recordista absoluto por ter sido o primeiro país a reduzir os juros abaixo de zero, em 2012.

Coincidentemente, a desigualdade de renda cresceu na Dinamarca e o chamado coeficiente de Gini subiu de 26,5 por cento em 2012 para 27,6 por cento em 2017. O coeficiente de Gini mede a distribuição da renda na economia -- quanto mais baixo for o coeficiente, maior é o nível de igualdade. Apesar do aumento, a Dinamarca continua tendo um dos níveis mais altos do mundo de igualdade de renda.

Com taxas de juros extremamente baixas, "algumas famílias se beneficiarão desproporcionalmente de ter muitos ativos financeiros, enquanto outras estarão muito, muito expostas a bolhas de crédito", disse Bernard.

Outra consequência imprevista do estímulo monetário extremo foi a dimensão politizada da política. "Se você for a única opção disponível, você entra em uma esfera política, e o fato de se tornar um peso-pesado político colocará sua independência em dúvida", disse Bernard. "Muitos dos bancos centrais receiam ficar perto dessa fronteira."

Ela disse que as preocupações com os efeitos desiguais também se aplicam às políticas macroprudenciais, como os requisitos anticíclicos de reserva de capital para os bancos.

"Normalmente, a política monetária entra em todas as gretas, mas a política macroprudencial nem tanto", disse ela. "As ferramentas macroprudenciais são muito, muito impopulares politicamente porque atingem algumas famílias com muita, muita força."