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BMW Brasil já adiou planos em um ano por ausência do Rota 2030

Leonardo Lara

11/06/2018 11h05

(Bloomberg) -- Sem uma definição sobre a nova política industrial do setor automotivo brasileiro, chamada de Rota 2030, a expectativa por um anúncio, ainda sem data certa para ocorrer, deixa a situação preocupante e angustiante, impedindo qualquer definição sobre estratégia e investimentos para o futuro, segundo Helder Boavida, presidente e CEO do BMW Group Brasil.

Boavida disse que o mercado, até agora, tem reagido e mostrado crescimento, e cita como fatores adicionais de preocupação as eleições presidenciais e a indefinição política. "Precisamos desta definição para termos previsibilidade, para definirmos os nossos planos para aquilo que vai ser o futuro", disse ele em entrevista em 7 de junho, no escritório da empresa, em São Paulo.

"Independentemente disso, a BMW continua super comprometida com o Brasil", disse Boavida, acrescentando que o segmento premium automotivo cresce em 2018 pela primeira vez nos últimos três anos. "E nós estamos crescendo o dobro" dos pares.

Ele cita o aumento nas vendas das marcas BMW e Mini no Brasil, e a maior participação de mercado em relação às concorrentes diretas, mas "muito aquém do que são as nossas necessidades". Para ele, apesar de as vendas sinalizarem que o pior ficou em 2017, na parte industrial a indefinição sobre o Rota 2030 não permite tomar decisões que tinham de ter sido tomadas há um ano. "Temos produtos que têm ciclos de vida de sete anos e que precisam dessa previsibilidade para serem feitos e neste momento estão atrasados".

Rentabilidade e Câmbio

Boavida esclarece que a decisão de construir a fábrica no Brasil, na cidade de Araquari, Santa Catarina, levou em conta o cenário do Inovar Auto, que estimulava as montadoras a investirem em plantas locais em troca de benefícios na tributação de modelos importados. "Não temos dúvida nenhuma de que, pelo menos enquanto existiu o Inovar Auto, porque agora estamos no vazio, não há forma mais eficiente de vender no Brasil do que produzir os carros localmente". A situação atual em termos de rentabilidade, sem o Rota 2030, "é a pior de todas, que é não ter um regime".

Para o executivo, a BMW consegue viver com e sem regimes, "mas nos digam para onde o governo quer ir, para onde o país quer ir para tomarmos as nossas decisões". Sem divulgar quais as metas de rentabilidade, Boavida disse a operação brasileira não tem atingido os objetivos e que "tem sido um desafio muito grande".

"Essa, talvez, é a maior preocupação. Com uma fábrica com um nível de ociosidade de 50% é muito difícil atingir os objetivos de rentabilidade, senão quase impossível". Apesar da dificuldade, o executivo disse que sem a instalação da fábrica, a BMW não teria a base de clientes atual "e o negócio seria de outra dimensão".

Além da ausência da política setorial, apontada como principal fator de preocupação, Boavida cita ainda a evolução cambial. "Diria que são os dois temas principais que temos hoje", disse ele acrescentando também a complexidade fiscal do país como "algo estrutural" e que "complica muito as nossas operações".

Exportação?

Boavida lembra que a situação no passado já era complicada, porque a montadora precisava de um componente de exportação para equilibrar a fábrica e reduzir a ociosidade, em meio à queda do mercado brasileiro. "Hoje em dia, além de termos um mercado que não se restabeleceu completamente, de continuarmos a não ter os acordos de livre comércio, não temos um regulamento do setor que estabeleça regras claras".

Ele explica que a fábrica brasileira, inaugurada em 2014, não abastece os países vizinhos pela ausência de tratados de livre comércio com o Brasil e porque nos acordos atuais de comércio, o nível de conteúdo local exigido para exportar é muito elevado e todas as marcas premium, pelo volume, não conseguem atingir o patamar de nacionalização. "Isso passaria a ser viável com acordos de livre comércio ou com um nível de conteúdo local menos exigente, que permitiria cumprir essas regras e realizar a exportação".

"O Brasil tem um potencial enorme. Acreditamos nesse potencial, pena ser um potencial que vamos vendo ser adiado ano após ano. O que falta, de fato, é um pouco de estabilidade e um pouco de visão para esse país possa se desenvolver".

"O que acho importante para o Brasil é que o país tenha um resultado eleitoral onde saia uma democracia reforçada, onde o populismo não exista, onde exista muito mais uma visão de longo prazo, em que se aposta muito mais na educação, em que o Brasil se abra muito mais ao mundo exterior em termos comerciais, com verdadeiros acordos de comércio com outros países, que o Brasil se torne um país mais fácil de se governar, notadamente em termos fiscais".