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Fundos de pensão aumentam compra de títulos ligados à inflação

David Biller e Kariny Leal

13/06/2018 16h18

(Bloomberg) -- Alguns fundos de pensão brasileiros, avaliados em mais de R$ 260 bilhões, estão arrebatando títulos ligados à inflação em meio a turbulências nos mercados doméstico e global.

Os rendimentos dos títulos subiram à medida que a turbulência dos mercados emergentes e a incerteza política local tornam os investidores mais avessos ao risco. Os rendimentos das notas da NTN-B, que pagam uma taxa de juros fixa mais a inflação, agora são altos o suficiente para atrair o interesse dos maiores fundos de pensão do país, incluindo a Previ, que administra mais de R$ 160 bilhões em ativos para trabalhadores do Banco do Brasil.

"Há duas ou três semanas, a gente vem comprando paulatinamente conforme oportunidade, já que em momentos de estresse como esse a liquidez não é muito boa no mercado secundário", disse Marcus Moreira, diretor de investimentos da Previ, em entrevista. "Compramos tudo o que é possível, priorizando vencimentos mais longos que estão com mais prêmio".

O real despencou 9% nos últimos dois meses, com fortes vendas nos mercados emergentes em meio aos rendimentos mais altos dos títulos do Tesouro dos EUA. Além disso, caminhoneiros em greve paralisaram a maior economia da América Latina em maio, e um grupo de candidatos à presidência de todo o espectro político está fazendo pouco para aliviar a incerteza.

Um cenário internacional positivo ajudou o mercado a ficar excessivamente otimista, disse Walter Mendes, presidente do fundo Petros, que administra R$ 80 bilhões de trabalhadores da Petrobras. A alta volatilidade levou a Petros a começar a comprar os títulos indexados à inflação, disse ele a repórteres no Rio de Janeiro, na terça-feira.

A turbulência local antes das eleições de outubro já era esperada, diferentemente do impacto nos mercados emergentes da normalização da política monetária norte-americana, que ainda não está claro, de acordo com Mauricio Wanderley, diretor de investimentos do fundo de pensão Valia, com R$ 22 bilhões sob administração.

Desaceleração da inflação

"O mercado brasileiro está começando a ficar barato, interessante. Os títulos indexados à inflação de longo prazo, o lastro para a maioria dos fundos de pensão, começaram a mostrar taxas atrativas", disse Wanderley em uma entrevista. "Talvez a grande questão para os investidores agora seja se já atingiu um teto ou se vai piorar. Mas já é uma grande oportunidade."

Os rendimentos crescentes dos títulos os tornam uma boa aposta para os fundos de pensão que os utilizam para cumprir suas metas atuariais, de acordo com Fabiano Rios, gestor da Absolute Gestão de Investimento. No entanto, como a inflação deve permanecer baixa, Rios disse que ainda não está recomendando sua compra. Economistas pesquisados pelo Banco Central prevêem uma inflação abaixo da meta neste ano e no próximo.

Investimento no exterior

A Funcef, fundo de pensão de R$ 62 bilhões para os trabalhadores da Caixa Econômica Federal, começou a analisar investimentos no exterior depois das recentes mudanças regulamentares do Conselho Monetário Nacional, segundo Carlos Vieira, diretor-presidente do fundo.

Moreira, da Previ, disse que está fazendo o mesmo, particularmente estudando setores que não são bem representados no Brasil, como a tecnologia. O Brasil continua a apresentar oportunidades para áreas como infraestrutura, energia e saúde, disse ele, acrescentando que espera ter mais clareza sobre o apetite da Previ por investimentos no exterior até o início de novembro.

Título em inglês:Brazil's Largest Pension Funds Gobble Up Inflation-Linked Bonds

--Com a colaboração de Josue Leonel e Patricia Lara.

Para contatar o editora responsável por esta notícia: Patricia Xavier, pbernardino1@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: David Biller no Rio de Janeiro, dbiller1@bloomberg.net;Kariny Leal no Rio de Janeiro, kdeoliveira1@bloomberg.net