Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Criadores de gado espanhóis temem radiação de minas de urânio

Thomas Gualtieri

03/07/2018 11h09

(Bloomberg) -- María José Álamo, cujos 120 bovinos pastam em terras próximas da única nova grande mina de urânio em desenvolvimento no mundo, está preocupada.

"Eu mesma não compraria carne de gado criado perto de uma mina como essa", disse Álamo, 48, em entrevista em um café do vilarejo de Baños de Retortillo, no oeste da Espanha, perto do local. "Então, suponho que as pessoas fariam o mesmo com a minha -- isso geraria um estigma."

A Berkeley Energia, a empresa australiana que desenvolve o projeto em terras próximas a Salamanca, afirma estar recuperando a grande tradição mineira da Espanha ao iniciar a produção de urânio em um momento em que o setor de energia global enfrenta preços mais altos a longo prazo pelo metal radioativo usado para alimentar as usinas nucleares. A Berkeley estima que a mina de urânio espanhola iniciará a produção até o fim do ano que vem, mas manifestantes como Álamo se veem estimulados pela chegada inesperada de um novo governo liderado pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), já que os comentários de alguns de seus membros mostram que eles podem ser menos abertos à indústria nuclear.

"Os prefeitos de muitas vilas afetadas pela mina são socialistas", disse Raquel Romo, presidente da Stop Uranio, uma plataforma com 400 membros formada para combater o projeto. "Por isso esperamos que o novo governo nos ajude."

A Berkeley começou a desenvolver o projeto de Salamanca em 2016 depois de conseguir aprovações para as obras iniciais no local que se tornará um dos 10 maiores produtores de urânio do mundo quando a operação estiver em andamento.

Investimentos realizados

A empresa afirma que se tornará uma importante fornecedora do combustível quando os governos reconhecerem a importância da energia nuclear para o esforço de promover formas de geração de energia que produzam menos poluição.

Segundo a empresa, o projeto envolverá investimentos de 250 milhões de euros (US$ 289,4 milhões), que criarão 2.500 empregos diretos e indiretos em uma zona rural que sofre com o declínio populacional, em parte devido às oportunidades econômicas limitadas. A Berkeley Energia, que até o momento investiu mais de 70 milhões de euros, espera que os jovens que trabalham na empresa "tenham filhos, o que rejuvenescerá as cidades locais, antes prósperas", disse o diretor-gerente Paul Atherley, em recepção em Salamanca, no mês passado.

A empresa está se esforçando para conquistar os moradores locais. A Berkeley está oferecendo Wi-Fi gratuito nas cidades vizinhas e construindo instalações de ginástica ao ar livre, consertando estações de tratamento de esgoto e patrocinando eventos esportivos e festivais. A empresa recebeu mais de 22.000 candidaturas de emprego, disse Atherley.

"Entendemos perfeitamente que existem grupos de lobby, especialmente antinucleares, que estão levantando questionamentos que consideramos que não têm nenhuma substância", disse Atherley, em entrevista, em Madri, em maio.

Entre as preocupações ambientais estão o impacto sobre os animais e a eliminação de material radioativo da água, disse Graciela Gómez Nicola, professora da Universidade Castilla-La Mancha em Toledo, que escreveu um relatório sobre o projeto para a organização World Wildlife Fund.

--Com a colaboração de Rodrigo Orihuela e Esteban Duarte.