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Gestoras precisam de testes de estresse: Bloomberg Opinion

Mark Gilbert

04/07/2018 14h22

(Bloomberg) -- Na década após a crise financeira, o setor bancário esteve sujeito a testes de estresse regulares, elaborados para impedir que derrubasse a economia global outra vez. As gestoras de recursos escaparam dessa verificação. Isso pode estar prestes a mudar, pelo menos na Europa.

Tendências recentes aumentaram a necessidade de avaliação da resistência das gestoras de recursos a choques. Em vista do quadro demográfico, o conjunto de poupadores ao redor do mundo está ficando maior, mais velho e mais rico. O total de ativos sob gestão equivale a aproximadamente um ano da produção mundial e cresceu quase 50 por cento desde o começo da década.

Essa expansão coincide com os menores juros em registro nos títulos públicos, o que levou gestoras de recursos a procurar taxas de retorno maiores em ativos como private equity, infraestrutura e imóveis. No entanto, fundos que oferecem resgate diário, mas têm em carteira ativos com baixa liquidez, ameaçam exacerbar quedas de preços quanto investidores batem em retirada.

Esse risco ganhou destaque após o referendo que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia. Nas semanas seguintes à votação, gestoras suspenderam saques de pelo menos sete fundos imobiliários britânicos ? com 18 bilhões de libras esterlinas (US$ 23,8 bilhões) em ativos ? porque os investidores tentavam resgatar seu patrimônio simultaneamente.

Apesar dessas tendências, em outubro, o Tesouro dos EUA rejeitou a proposta de submeter fundos mútuos a testes de estresse. O governo americano entende que as regras impostas após a crise sobrecarregaram as gestoras de recursos, conforme conclusão de um relatório divulgado no mês passado pela KPMG.

Consequentemente, "existe agora um desejo de desregulamentar e tomar o caminho que se distancia drasticamente daquele escolhido pelos reguladores globais em geral e pela União Europeia em particular", afirmou a KPMG.

Tudo indica que a Europa será pioneira em testes de estresse para gestoras de recursos. A Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA) está prestes a publicar propostas para avaliar a resistência dos fundos de renda fixa de curto prazo da UE a uma queda súbita na liquidez. Provavelmente, haverá em seguida uma abordagem similar para medir a resistência dos fundos mútuos do bloco a choques de liquidez, de acordo com Martin Moloney, conselheiro especial sobre riscos do banco central da Irlanda.

Quando as avaliações de liquidez para gestoras de recursos individuais estiverem em prática, as autoridades reguladoras poderão estudar se é útil estimar de modo mais amplo como o segmento de gestão de fundos se sairia em uma crise, junto com outros segmentos do setor financeiro.

"Então será possível perguntar de forma construtiva se há risco específico às gestoras de recursos e se podem causar algum problema", disse Moloney, que também preside o Comitê de Gestão de Investimentos da ESMA. "A pergunta difícil é: se não é idiossincrático ao fundo e não é sistêmico para o sistema todo, há uma terceira maneira de analisar o risco que seja útil?"

Por mais que esses exames sejam imperfeitos, os testes de estresse no sistema bancário se mostraram úteis para promover faxinas. Já passou da hora de as gestoras de recursos enfrentarem esse crivo. A profundidade da última crise financeira foi notável. A deterioração repentina do valor dos ativos contidos nos balanços patrimoniais inchados dos bancos de investimento destruiu patrimônio. A próxima crise pode se distinguir pela amplitude, agora que fundos de pensão e outras instituições não bancárias preencheram muitas das lacunas abertas quando os bancos foram forçados a recuar.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.