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Lugar onde James Bond nasceu está ajudando a salvar o Caribe

Ross Kenneth Urken

23/07/2018 16h56

(Bloomberg) -- Em 1949, Ian Fleming comprou um caderno de naturalista em branco ao qual ele deu o título grandiloquente de "Sea Fauna or the Finny Tribe of Goldeneye" (Fauna Marinha ou a Tribo Piscosa de Goldeneye, em tradução livre). Encadernado em couro e com o título gravado em ouro, ele o levou consigo quando partiu de Londres para sua amada Jamaica, onde iria se submergir na beleza natural da ilha e mergulhar entre as abundantes barracudas. Ele chamou duas das maiores espécies de Bicester e Beaufort, nomes parecidos com os de criaturas vistas em "Chantagem Atômica", um dos romances que ele escreveria mais tarde sobre um certo espião britânico.

Sessenta anos depois, a intocada Jamaica do criador de James Bond está em perigo. A pesca excessiva colocou em risco o hábitat das barracudas: menos peixes que comem algas provocam a morte dos corais e a prática da pesca com dinamite teve efeitos catastróficos. Mas nos últimos sete anos, um ex-executivo de uma gravadora construiu lentamente uma rede de conservacionistas para ajudar a proteger o ecossistema perto da casa de Fleming, chamada de Goldeneye, criando, nesse processo, um modelo para outras pessoas.

Chris Blackwell, 81, fundou a Island Records e lançou a carreira de Bob Marley, entre outros. Ele é filho de Blanche Lindo, amiga íntima de Fleming, e hoje é dono da Island Outpost, uma rede de resorts boutique de luxo orientados à natureza. A joia da coroa é o GoldenEye, onde os hóspedes podem alugar a mansão original de Fleming perto do vilarejo de Oracabessa ("GoldenEye" também é o nome de um filme de James Bond estreado em 1995). The Oracabessa Foundation, que opera como sede das iniciativas de preservação de Blackwell, está situada ali.

Santuário 'modelo'

A Jamaica está experimentando um crescimento sem precedentes. O Ministério de Indústria, Investimento e Comércio do país fechou parceria com a Jamaica Promotions e o China Export-Import Bank para criar a "Brand Jamaica" (Marca Jamaica), que disponibiliza US$ 10 bilhões para empresas que desejam construir lá.

Blackwell, com a ajuda de simpatizantes ricos como Jay-Z e Beyoncé, concentrou seus recursos em preservar os ecossistemas marinhos da Jamaica e em lutar contra a pesca excessiva, a destruição dos recifes de coral e a ameaça representada pelo dólar barato para projetos de construção. A diferença fundamental entre Oracabessa e as iniciativas de preservação anteriores é o grande envolvimento dos pescadores locais, que são os mais afetados.

"Esse é um modelo para todos os outros santuários de peixes da ilha", disse Blackwell. "Achei que fazia muito mais sentido conversar com as pessoas e ouvir o que elas dizem."

Na época de Fleming, Oracabessa era um próspero porto de pesca e de bananas. Isso começou a desacelerar após a independência da ilha do Reino Unido em 1962. Em meio à agitação política e ao declínio econômico, a pesca excessiva se tornou desenfreada. Décadas de dinamitar recifes em uma tentativa de encontrar peixes desencadearam um ciclo vicioso que, em conjunto com a mudança climática, reduziu o hábitat natural. Hoje, a Jamaica tem uma das reservas de peixes mais esgotadas de todos os países.

Aqui entre em cena Jonathan Gosse, 48, de Wisconsin, nos EUA, e diretor-executivo da Fundação Blackwell. Em novembro, ele ajudou a estabelecer o Oracabessa Marine Trust, uma parceria com pescadores da Cooperativa de Pescadores de St. Mary. Foi formalizada uma colaboração que remonta a 2011 para construir o Santuário de Peixes da Baía de Oracabessa, uma zona ao largo da cidade onde a pesca é proibida. À medida que os pescadores se afastam, a esperança é que a área protegida acabe restabelecendo seu estoque de peixes.