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O que o Fed sinalizará na semana que vem: Bloomberg Opinion

Mohamed A. El-Erian

23/07/2018 15h29

(Bloomberg) -- O Federal Reserve dificilmente subirá a taxa básica de juros dos EUA na reunião da semana que vem. A expectativa de que o evento tem pouco potencial para mexer com os mercados é reforçada por dois fatores. Em primeiro lugar, o relatório semestral sobre política monetária que o comandante da instituição, Jerome Powell, enviou na semana passada ao Congresso envolveu questões por escrito e horas de perguntas e respostas. Em segundo lugar porque a reunião que ocorrerá nos dias 31 de julho e 1º de agosto não será seguida de entrevista coletiva à imprensa ou divulgação de novas projeções econômicas ou referentes a medidas oficiais (incluindo o gráfico de projeções conhecido como "blue dots").

No entanto, essa sensação de calmaria talvez seja incompleta. O alto escalão do banco central americano se depara com diversas decisões internas delicadas sobre a economia e a trajetória dos juros e do balanço patrimonial da instituição. É preciso decidir mexer ou não na sinalização que já foi dada ao mercado sobre quatro assuntos específicos.

Embora o crescimento da economia doméstica e a inflação estejam se acelerando conforme a expectativa do Fed, o ambiente econômico e financeiro é incerto sob diversos ângulos. Por exemplo:

* O comportamento do mercado financeiro continua intrigante. A curva de juros está relativamente achatada, com a diferença entre os rendimentos dos títulos do Tesouro com 2 e 10 anos de prazo em apenas 0,30 ponto percentual ? nível que no passado sinalizava significativo desaquecimento da economia.

* A política para o comércio internacional está atipicamente instável, com os EUA e seus principais parceiros ameaçando ou já aplicando taxação recíproca em uma situação que pode se agravar.

* Em vez de manter a tendência de alta, o crescimento dos salários perdeu fôlego em junho, de acordo com o último relatório do governo sobre o mercado de trabalho. Isso apesar de a geração de empregos continuar robusta.

* O aumento da taxa de participação no mercado de trabalho traz de volta a ideia de que ainda há ociosidade, apesar do desemprego historicamente baixo.

* As tendências de produtividade também intrigam os economistas. Não dá para saber de fato se os dados persistentemente fracos são causados por problemas temporários e de mensuração ou se resultam de forças seculares desfavoráveis.

* O impulso ao crescimento econômico fora dos EUA parece ter diminuído, o que pode impor obstáculos econômicos e financeiros ao país.

Os integrantes do comitê de política monetária do Fed consideram tudo isso quando avaliam o cenário para a economia e as políticas governamentais e decidem o que sinalizar aos mercados. A especulação sobre possíveis mudanças aumentou na semana passada, devido a uma alteração de última hora que Powell fez nos comentários que faria a parlamentares em 17 de julho e que já haviam circulado antes do evento. Ele acrescentou a expressão "por ora" a uma frase corriqueira sobre a intenção do Fed de "continuar subindo gradualmente" a taxa básica de juros.

Investidores do mercado acionário ? mas não de outros mercados ? interpretaram isso como indicação de que o tom usado para comunicar as intenções do Fed ficaria mais brando. Agora o banco central precisa decidir se confirma isso, ao sinalizar que está:

Trazendo novamente a projeção do cenário básico para o número total de acréscimos nos juros em 2018 de quatro para três porque as condições internacionais oferecem menos acomodação;Diminuindo a probabilidade de anunciar o próximo acréscimo nos juros em setembro;Sugerindo antecipação do final do processo de redução do balanço patrimonial, que deixaria o Fed com um balanço total ainda significativamente alto para os padrões históricos; eReforçando o entendimento de que o juro neutro varia muito com o período e está voltando para um nível maior e mais consistente com o padrão histórico.

Repito que, a meu ver, o comitê liderado pela antecessora de Powell, Janet Yellen, teria aproveitado sem reservas a oportunidade de sinalizar todas as quatro intenções, considerando o ambiente operacional incerto. Desconfio que, no estágio atual, o comitê liderado por Powell só estará disposto a sinalizar os dois primeiros itens. Sinalizar os demais levará algum tempo.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.