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AllianceBernstein alerta para perigo de aposta em renda fixa

Natasha Doff

01/08/2018 14h51

(Bloomberg) -- Uma instituição com US$ 270 bilhões em ativos está soando o alerta sobre uma estratégia muito popular entre os maiores fundos de renda fixa do mundo.

Gershon Distenfeld, da AllianceBernstein, acha que carteiras com duração média negativa estão muito dependentes da expectativa que os rendimentos avançarão na esteira do crescimento econômico e do aperto monetário. Para o corresponsável por renda fixa na firma sediada em Nova York, os ganhos com a estratégia no atual ambiente de juros em alta e crescimento firme podem se transformar rapidamente em perdas quando o ciclo terminar.

"Entendo a atratividade porque as pessoas aprendem que devem manter distância da renda fixa quando os juros sobem", afirmou Distenfeld. "Mas como ninguém sabe quando os rendimentos vão subir, as pessoas vão perder dinheiro."

Previsões de investidores de peso sobre a direção dos rendimentos se mostraram equivocadas neste ano. A tensão comercial e preocupações referentes ao final do ciclo econômico impedem que os títulos do Tesouro americano acompanhem a aceleração da expansão nos EUA. O quadro ressalta o aumento dos riscos para uma aposta considerada óbvia quando o crescimento global estava sincronizado.

A estratégia cativou gigantes como a Franklin Templeton, que usou instrumentos como swaps de juros para apostar na depreciação dos títulos do Tesouro dos EUA no Global Bond Fund, que é seu carro-chefe. Fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) que fazem hedge da duração dos títulos dos EUA também estão ficando mais populares: os ativos totais nas maiores carteiras do tipo quase dobraram neste ano para cerca de US$ 2 bilhões.

A estratégia foi lucrativa em se tratando dos títulos dos EUA, que se apreciaram neste ano ainda que o rendimento dos papéis de referência, com prazo de 10 anos, tenha penado para passar a barreira de 3 por cento. ETFs com hedge de duração geraram retorno médio de 2,3 por cento, superando de longe o índice agregado de títulos Bloomberg Barclays. Goldman Sachs Asset Management e Franklin Templeton citaram as posições a descoberto em títulos do Tesouro americano como geradoras de ganhos no segundo trimestre.

No entanto, investidas parecidas na Europa deram errado para investidores como Bill Gross. A aposta dele de que o rendimento dos títulos do governo alemão se aproximaria da taxa oferecida pelos títulos públicos dos EUA causou perda trimestral para o Janus Henderson Global Unconstrained Bond Fund.

Ashis Dash, diretor associado da Morningstar, afirmou em entrevista em junho que, embora muitos fundos tenham adotado a flexibilidade de usar duração negativa na última década, os riscos são tão grandes que a maioria só usa isso taticamente e por períodos muito curtos.

Distenfeld argumenta que abordagens com hedge de duração só podem entregar desempenho superior no ambiente de fim de ciclo que os mercados aproveitam no momento. Ainda assim, já há sinais de fragilidade no crescimento econômico. Na zona do euro, a expansão já tropeça, sendo que falta pelo menos um ano para o Banco Central Europeu começar a mexer nos juros.

Quando o ciclo terminar e os juros altos começarem a tirar fôlego do crescimento, as perdas vão aumentar rapidamente, alertou Distenfeld. Pelos cálculos dele, um investidor que fez hedge de duração em um fundo de títulos de alto rendimento dos EUA antes da crise financeira de 2008 - basicamente, o pior cenário possível - teria sofrido perdas de mais de 34 por cento.

"Você vai pagar muito por duração curta. É caro, o timing é crítico", disse Distenfeld. "A história mostra que pouquíssima gente ou ninguém consegue prever o momento em que os movimentos com rendimentos acontecem."

--Com a colaboração de Yakob Peterseil e Sid Verma.