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Islândia quer impedir que estrangeiros comprem terras no país

Ragnhildur Sigurdardottir

01/08/2018 14h57

(Bloomberg) -- Há pouco mais de um século, uma jovem chamada Sigridur Tomasdóttir ameaçou se jogar no gélido desfiladeiro da emblemática cachoeira Gullfoss, na Islândia, na tentativa de impedir que empresários ingleses a transformassem em uma usina hidrelétrica.

No fim, a ambientalista ancestral conseguiu manter sua vida -- o contrato de leasing foi cancelado, supostamente porque o dinheiro não chegou a tempo -- e a Gullfoss, ou Catarata Dourada, hoje é uma das maiores atrações turísticas do país.

Katrín Jakobsdóttir, a primeira ambientalista a se tornar primeira-ministra da Islândia, agora pegou o bastão de Tomasdóttir ao protestar contra os investidores estrangeiros que têm comprado grandes áreas de natureza intocada da ilha do Atlântico Norte.

A primeira-ministra, de 42 anos, líder do Movimento de Esquerda Verde, quer "mais restrições" à posse de terras, mas afirma que aguardará primeiro os estudos que estão sendo realizados atualmente por quatro ministérios. As conclusões são esperadas para o fim do terceiro trimestre.

"Antes de mais nada, quero defender a soberania do país", disse Jakobsdóttir, em entrevista por telefone, em Reykjavík. "É importante para nós que possamos decidir como a terra é desenvolvida e utilizada."

Como o país é membro do Espaço Econômico Europeu (uma zona de livre comércio ligada à União Europeia), o espaço de manobra do governo é limitado. Jakobsdóttir diz que busca "restrições baseadas no tamanho e no número" de lotes detidos. A Islândia já consegue barrar compras de não europeus, como fez em 2012, quando impediu que o bilionário chinês Huang Nubo abocanhasse uma área de 300 quilômetros quadrados de terras no norte do país.

Interesse estrangeiro

O governo está respondendo às crescentes reclamações dos fazendeiros, muitos dos quais mostram ressentimento pelo poder de compra superior dos compradores estrangeiros e questionam os motivos deles. A Islândia só conseguiu independência plena da Dinamarca em 1944 e o sentimento de patriotismo continua em alta. A coalizão do governo de Jakobsdóttir depende do apoio do conservador Partido da Independência e do Partido Progressista, o preferido dos fazendeiros.

O bilionário britânico Sir Jim Ratcliffe e seus associados possuem um total de 39 lotes repletos de rios aptos para a pesca, segundo o jornal islandês Morgunbladid. O sueco John Harald Orneberg e o suíço Rudolf Lamprecht são outros dois entusiastas da pesca endinheirados que compraram terras na ilha do Atlântico Norte, segundo reportagens da imprensa local.

Ratcliffe tem afirmado que seu maior interesse está na população local de salmão e que poderia reconsiderar os planos futuros se as regras se tornarem mais rígidas. "Ninguém quer operar contra a vontade das autoridades de um país", disse seu porta-voz na Islândia, Gísli Ásgeirsson.

Um dos vizinhos islandeses de Ratcliffe, um fazendeiro chamado Aevar Rafn Marinósson, não se convence.

"Eles dizem que querem proteger o salmão, mas essa é uma explicação pouco convincente", disse. "Não é necessário possuir terras para proteger o salmão."