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Projeto secreto na China irrita funcionários do Google

Mark Bergen e Shelly Banjo

02/08/2018 11h55

(Bloomberg) -- A equipe do Google acordou na quarta-feira com uma notícia surpreendente: a empresa está criando um aplicativo de pesquisa sob medida, e censurado, para a China. O projeto, mantido em segredo exceto para alguns diretores e equipes, desencadeou um inflamado debate interno.

No entanto, a iniciativa pode não ter pego os funcionários completamente de surpresa.

Sundar Pichai, CEO desde 2015, nunca escondeu o desejo de levar a gigante das buscas de volta à China continental. O executivo é mais pragmático em relação ao maior mercado de internet do mundo do que os fundadores do Google, que retiraram o motor de buscas da China continental em 2010 devido a preocupações com a censura.

Sob o comando de Pichai, o Google investiu em empresas chinesas, reuniu-se com seus líderes e priorizou a difusão da tecnologia de inteligência artificial do Google em todo o país. Mas reinserir o motor de pesquisa seria a medida mais ousada de Pichai e deixará sua marca pessoal na empresa.

Os fundadores Larry Page e Sergey Brin construíram o Google para "organizar as informações do mundo e torná-las universalmente disponíveis". Eles viam a China como uma ameaça à posição da empresa como defensora da internet aberta. Pichai, em contraste, vê a China como uma incubadora de profissionais de engenharia e um mercado atraente.

O novo estilo de liderança e as prioridades de Pichai nem sempre caíram bem com os funcionários do Google. Poucas horas depois da notícia sobre o motor de busca na China, vários funcionários criticaram os planos em particular. Dois funcionários que conversaram com a Bloomberg News compararam a iniciativa ao Projeto Maven, um contrato de inteligência artificial do Google com o Pentágono que provocou uma revolta interna no começo do ano. A empresa não renovará esse acordo.

Outra pessoa que viu alguns dos primeiros exemplos do aplicativo de busca chinês, de codinome Dragonfly, descreveu-o como um "mecanismo de censura". As pessoas confiam em que o Google compartilha informações verdadeiras e o aplicativo de busca chinês trai essa confiança, disse o funcionário. Os funcionários do Google pediram para não serem identificados porque não têm permissão para discutir assuntos internos.

Um funcionário foi transferido para outro cargo na empresa devido a preocupações éticas com Dragonfly, de acordo com uma mensagem interna vista pela Bloomberg News. Um vice-presidente da empresa não identificado pediu que os detalhes do projeto fossem mantidos em segredo para que eles não vazassem para a população, dizia a mensagem interna.

O Google afirmou na quarta-feira que a companhia não "comenta especulações sobre planos futuros" e não quis fazer mais comentários. Em 2010, Brin, agora presidente da matriz Alphabet, disse ao Wall Street Journal que as políticas de censura e vigilância da China têm "as mesmas características do totalitarismo" da Rússia Soviética, onde ele nasceu. Brin não respondeu a um e-mail com um pedido de comentário na quarta-feira.

Alguns funcionários do Google, no entanto, publicaram mensagens de apoio ao projeto em fóruns internos na quarta-feira. A missão do Google de organizar as informações do mundo não deve deixar de fora um quinto do planeta, escreveu uma pessoa em uma mensagem vista pela Bloomberg News. Outra disse que boicotar o país pouco fez para mudar o governo chinês ou para "provocar alguma mudança positiva".

--Com a colaboração de Alistair Barr e Lulu Yilun Chen.

Repórteres da matéria original: Mark Bergen em São Francisco, mbergen10@bloomberg.net;Shelly Banjo em NY, sbanjo@bloomberg.net