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Tarifas da UE afetam ainda mais as fabricantes de jeans dos EUA

Uliana Pavlova e Matthew Townsend

03/08/2018 15h29

(Bloomberg) -- Victor Lytvinenko procura os e-mails no iPhone, tentando achar aquele que mostra melhor o estrago que a guerra comercial global já causou em sua pequena empresa americana de jeans de dez anos.

O homem de 37 anos -- de camiseta preta, jeans azul e tênis Stan Smith -- finalmente acha a mensagem. É de um cliente da Escócia que pede desculpas por cancelar um pedido no valor de dezenas de milhares de dólares. O motivo? O dono da loja se recusou a pagar a tarifa adicional de 25 por cento imposta em junho pela União Europeia aos jeans feitos nos EUA, como parte da resposta do bloco às tarifas do presidente Donald Trump sobre o aço e o alumínio.

"Já perdemos duas contas", disse Lytvinenko, que fundou a Raleigh Denim Workshop com a esposa, Sarah Yarborough, em 2008. "Isso dói."

Lytvinenko foi a Manhattan no fim de julho para uma feira do setor de vestuário. A viagem anual costumava ser uma desculpa divertida para encontrar clientes ou jogar pingue-pongue e tomar cerveja com amigos que também ganhavam a vida fazendo roupas nos EUA. Mas neste ano foi diferente. Conversaram muito sobre como os jeans americanos -- logo isso, entre tantas coisas -- foram arrastados para a disputa comercial.

Indústria em perigo

Esse foi o baque mais recente em uma indústria que já tinha se tornado uma sombra do que foi. Nos últimos 12 meses, duas das últimas grandes fábricas de jeans fecharam, entre elas a maior: a unidade da Core Denim em Greensboro, Carolina do Norte, que, segundo muitas empresas, era a última a fabricar jeans de alta qualidade em grande escala nos EUA. Os aumentos do salário mínimo na Califórnia também ajudaram a que muitas fábricas de vestuário de Los Angeles fechassem ou mudassem para o México, o que agravou um ano tumultuado em uma indústria que mal consegue parar em pé.

Além de tudo isso, os acordos de livre comércio incentivaram a fabricação de jeans no exterior durante duas décadas e agora os fabricantes que restaram não conseguem acreditar na ironia de serem prejudicados por uma volta ao protecionismo. Grandes marcas, como Levi Strauss & Co., já tinham ido embora e transferido quase toda a produção para a Ásia ou o México. As que restaram são principalmente pequenas empresas que sobrevivem vendendo sua qualidade e sua origem americana no segmento premium do mercado, com jeans de US$ 200 ou mais.

"É mais um abalo", disse Roy Slaper, que dirige a Roy Denim em Oakland, Califórnia. As tarifas não fazem sentido economicamente porque a produção americana é uma parte "microscópica" do mercado global, disse ele. Os EUA exportaram apenas US$ 31 milhões em jeans para a UE no ano passado, cerca de 16 por cento do total de exportações globais do setor. "Mas, politicamente, eu entendo o porquê. Não tem nada mais americano do que os jeans."

Repórteres da matéria original: Uliana Pavlova em Chicago, upavlova3@bloomberg.net;Matthew Townsend em New York, mtownsend9@bloomberg.net