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Arábia Saudita suspende relações diplomáticas com Canadá

Zaid Sabah e Glen Carey

06/08/2018 15h21

(Bloomberg) -- A Arábia Saudita suspendeu os laços diplomáticos e novas negociações comerciais com o Canadá em resposta ao pedido do Canadá para a libertação de ativistas dos direitos das mulheres - uma drástica escalada que evidencia a política externa cada vez mais assertiva do reino sob o comando do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

A Arábia Saudita chamou seu embaixador em Ottawa e ordenou que o enviado canadense em Riad partisse dentro de 24 horas, segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores. O Canadá está "buscando maior clareza" sobre o assunto, disse a porta-voz da ministra canadense das Relações Exteriores Chrystia Freeland.

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita citou declarações feitas na semana passada por Freeland e pela Embaixada do Canadá em Riad criticando a prisão de ativistas dos direitos das mulheres, incluindo Samar Badawi. O irmão dela, Raif Badawi, um blogueiro crítico do governo, já estava em uma prisão saudita.

Os comentários do Canadá são "uma afronta ao reino e exigem uma resposta clara para impedir que qualquer parte tente intervir na soberania saudita", afirmou o Ministério.

Sob o comando do príncipe Mohammed, filho do rei Salman que representa o poder por trás do trono, a Arábia Saudita tem reagido de forma mais agressiva contra países que, segundo sua percepção, intervêm mais em seus assuntos internos. Em pouco mais de um ano, o reino liderou uma coalizão de quatro países que rompeu relações com o vizinho Catar, mandou chamar seu embaixador na Alemanha e cortou laços comerciais com algumas empresas alemãs em meio a um conflito diplomático. O reino foi amplamente acusado de forçar o primeiro-ministro libanês, Saad al-Hariri, a renunciar temporariamente, acusação negada pelos sauditas.

"A ruptura nas relações diplomáticas sauditas com o Canadá ressalta como a 'nova' Arábia Saudita que Mohammed bin Salman está construindo não está nem um pouco disposta a tolerar qualquer forma de crítica a seu modo de lidar com seus assuntos domésticos", disse Kristian Ulrichsen, membro do Oriente Médio do Instituto Baker de Política Pública da Rice University no Texas.

A política externa saudita começou a mudar quando o rei Salman sucedeu seu falecido irmão, Abdullah, em 2015, e posicionou o filho como o príncipe mais poderoso do reino. Como ministro da Defesa, o príncipe Mohammed também é responsável pelo envolvimento militar do reino no Iêmen contra rebeldes apoiados pelos iranianos.

Sob o comando dos líderes anteriores, o reino costumava escolher uma diplomacia sutil e dependia basicamente de seu poder de fogo financeiro para obter influência. Os críticos dessa política afirmam que o reino tinha dificuldades para alcançar seus objetivos.

O impasse confronta o governo saudita, que está lentamente abrindo a porta para os direitos das mulheres, com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, um defensor declarado do avanço das mulheres, que nomeou um gabinete equilibrado em termos de gênero logo após a eleição de 2015.

--Com a colaboração de Frederic Tomesco.

Repórteres da matéria original: Zaid Sabah em Washington, zalhamid@bloomberg.net;Glen Carey em Riyadh, gcarey8@bloomberg.net