Paralisado no limbo do Brexit, Reino Unido negligencia pobres
(Bloomberg) -- No coração do distrito de teatros de Londres, em frente ao Savoy Hotel, cujas diárias chegam a custar US$ 800, dezenas de pessoas esperam pacientemente em uma noite agradável de verão.
A fila sinuosa perto de uma agência do Coutts & Co., os banqueiros da rainha, exibe um retrato da Londres contemporânea: homens e mulheres de todas as idades e origens étnicas, alguns falando inglês e um pouco de polonês em meio a uma cacofonia de outros idiomas. Alguns estão vestidos com elegância, de camisa e calça social, outros usam jeans e boné. Um homem usa o uniforme de uma empresa de entrega de alimentos.
Mas eles não estão lá para conseguir ingressos para um espetáculo do West End ou uma mesa no restaurante de Gordon Ramsay. Eles estão esperando a comida distribuída por uma instituição de caridade local.
Imagens da riqueza ao lado da pobreza, de desabrigados e de refeitórios populares não são novidade na cidade que inspirou Charles Dickens e George Orwell. Também não são um caso isolado entre os principais centros urbanos do planeta. Mas no Reino Unido da atualidade, essas imagens refletem uma sociedade cada vez mais pressionada, porque o Brexit - o incessante objetivo de sair da União Europeia - suga a energia política do país e a concentração para enfrentar outros assuntos urgentes.
A política do governo ficou paralisada, incapaz de resolver as causas da desilusão que levou a população a votar pelo Brexit em 2016, enquanto oito anos e quase 140 bilhões de libras (US$ 184 bilhões) de cortes nos gastos afetaram os serviços públicos e a assistência social. Em Londres, a riqueza e o glamour da cidade mais global da Europa mascaram uma classe baixa que enfrenta dificuldades em empregos que não pagam o suficiente para arcar com o básico.
O Reino Unido é cada vez mais um país de universos paralelos.
O emprego está em um patamar recorde graças a contratos de trabalho flexíveis, a economia está saudável o suficiente para o Banco da Inglaterra elevar o custo do empréstimo e as taxas de pobreza absoluta estão em pisos recorde.
No entanto, um relatório do think tank Resolution Foundation publicado em 24 de julho concluiu que os padrões de vida aumentaram no ano passado no ritmo mais lento desde 2012. A recuperação da renda após a crise financeira global deu marcha a ré para as famílias mais pobres, que representam 30 por cento da população. Embora Londres seja a região mais rica do norte da Europa, o Reino Unido também abriga nove de suas 10 regiões mais pobres.
Os gastos públicos no Reino Unido caíram de 45 por cento do PIB em 2010 para cerca de 38 por cento, de acordo com dados do Escritório de Responsabilidade Orçamentária.
"Agora, cada um está lutando por si", disse Mohammed Nazir, membro do gabinete de habitação do Conselho do Distrito de Slough, na periferia de Londres, após uma reunião no Parlamento do Reino Unido sobre a falta de moradia. "A consciência social está desaparecendo rapidamente."
A primeira-ministra Theresa May, enquanto isso, luta diariamente para manter sua liderança. Oito membros do governo pediram demissão depois que ela anunciou seu plano para o Brexit, no início deste mês. A formulação de políticas se resume a apagar incêndios à medida que termina o prazo para que o Reino Unido saia formalmente da UE, em março do próximo ano.
Foram quatro ministros de habitação diferentes em quatro anos. As políticas para reduzir a falta de moradia e ajudar a fornecer segurança para uma nova geração de trabalhadores vulneráveis são rotineiramente subestimadas, de acordo com Neil Coyle, um parlamentar do Partido Trabalhista, opositor, que copreside o grupo interpartidário do Parlamento sobre a falta de moradia.
"Nós chamamos isso de 'neglexit'", disse ele. "Todos os outros grandes problemas políticos estão sendo negligenciados por causa do Brexit."
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