Roqueiro larga o baixo para combater corrupção na Petros
(Bloomberg) -- À frente da Petros, fundo de pensão de R$ 80 bilhões no Brasil, Walter Mendes enfrentou déficits multibilionários, processou ex-dirigentes e deixou de lado uma de suas paixões -- tocar baixo em uma banda de rock.
E ele está pronto para mais.
Mendes, presidente da Petros, dos funcionários da Petrobras, se prepara para novas batalhas judiciais para tentar recuperar pelo menos parte do dinheiro perdido pelo fundo nos últimos anos devido a investimentos duvidosos que agora são alvo de investigações de corrupção.
"Acabamos de entrar com nosso primeiro processo de responsabilização e ressarcimento", disse Mendes, em entrevista, no escritório da Bloomberg em São Paulo. "Certamente não será o último."
A Petros cobra indenização de R$ 584 milhões de 10 ex-diretores e conselheiros, incluindo dois ex-presidentes, por prejuízos na aquisição de uma participação na Itaúsa - Investimentos Itaú SA da construtora Camargo Corrêa, em 2010, a preços considerados injustos.
As lutas de Mendes com o passado do fundo ficaram claras desde o início. Em seu terceiro dia no cargo, em 2016, a polícia iniciou uma investigação sobre supostos atos de corrupção nos maiores fundos de pensão do país, entre eles a Petros. Ele negociou cooperação plena com os procuradores em troca de um acordo para evitar buscas nos escritórios do fundo ou nas residências dos funcionários, cena que se tornou comum no Brasil.
O executivo de 62 anos iniciou uma investigação interna na Petros, propôs mudanças nos estatutos do fundo e contratou quatro dos maiores escritórios de advocacia do Brasil para avaliar quais processos judiciais vale a pena perseguir. E ele tem pressa: parte dos 80.000 trabalhadores que contribuem para a Petros está pagando um valor extra para ajudar a cobrir o déficit -- de quase R$ 31 bilhões nos últimos dois anos no principal fundo --, e alguns desses trabalhadores estão processando a Petros por isso.
Não faltam exemplos de más decisões de investimento. Uma delas foi a participação na Sete Brasil Participações, empresa criada para construir uma frota de sondas, que quebrou em meio ao enorme escândalo na Petrobras. A Petros também investiu na Companhia Brasileira de Tecnologia Digital, empresa que lutou na Justiça com a Apple pelos direitos de marca iPhone no Brasil -- e perdeu. Mendes preferiu não detalhar quais são os outros processos que o fundo está analisando.
Como parte da reforma, Mendes reorganizou a área de investimento do fundo, que, segundo ele, vinha tomando decisões irracionais, e criou controles internos para impedir nomeações políticas. Além disso, ele acelerou o ritmo de desinvestimentos, levantando mais de R$ 6,4 bilhões com a venda de participações em empresas como Itaúsa e CPFL Energia, além de ativos imobiliários. A maior parte do dinheiro foi usado para comprar títulos do governo conhecidos como NTN-B, que pagam uma taxa de juros fixa mais a inflação, considerando que a queda do mercado no Brasil tornou os rendimentos mais atraentes, disse Daniel Lima, diretor de investimentos da Petros, na mesma entrevista.
"Aumentamos nosso caixa, ganhamos flexibilidade e, por isso, não precisamos vender mais nenhum ativo", disse Lima. Embora o fundo não tenha pressa, a conclusão da tão aguardada venda de sua participação na produtora de minério de ferro Vale pode acontecer até o fim do ano, segundo Lima.
A luta pela melhoria da Petros teve um custo pessoal. Ao mudar de São Paulo para o Rio de Janeiro, sede do fundo, Mendes teve de deixar de tocar baixo no Black Zornitak, uma banda de rock com músicas inspiradas em finanças como "Too Big To Fail" e "Manager's Advice". Colegas de banda incluem nomes bem conhecidos do mercado financeiro do Brasil, incluindo Marcelo Giufrida, CEO da Garde Asset Management.
"Nosso maior desafio é como criar estruturas para evitar interferência política e atos incorretos depois que sairmos", disse Mendes. "Quem sabe depois que eu passar esse desafio na Petros eu volto para o show business?"
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