Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Especuladores, não traficantes, dominam uso de criptomoedas

Camila Russo

07/08/2018 15h44

(Bloomberg) -- A proporção de atividades legais e ilegais do bitcoin se inverteu, segundo Lilita Infante, da agência antidrogas dos EUA (DEA, na sigla em inglês).

Quando Infante começou a ver o bitcoin aparecer em seus casos na DEA, cinco anos atrás, uma análise dela dos dados de blockchain mostrava que a atividade criminosa estava por trás de cerca de 90 por cento das transações com a criptomoeda. Agora, a atividade ilegal encolheu para cerca de 10 por cento e a especulação se tornou o fator dominante, disse.

Isso não significa que os criminosos tenham deixado de usar o bitcoin. O volume total de transações associado a usos ilegais aumentou desde 2013, disse Infante, que é agente especial da DEA e faz parte da Força-Tarefa de Investigação Cibernética, formada por 10 pessoas. A equipe se concentra em investigações relacionadas à dark web e às moedas virtuais e colabora com outras unidades do Departamento de Justiça dos EUA, incluindo o FBI e a Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos.

"O volume cresceu fortemente, a quantidade de transações e o valor em dólares também aumentaram bastante ao longo dos anos nas atividades criminosas, mas a proporção diminuiu", disse em entrevista em seu escritório, em Weston, na Flórida. "A maioria das transações é usada para especular com preços."

As conclusões de Infante contradizem a percepção popular de que o bitcoin está sendo usado principalmente por criminosos como o notório Dread Pirate Roberts, mas também mostram que o mercado paralelo é um dos maiores grupos de pessoas que usam o bitcoin por suas características reais e não pelas oscilações dos preços. As transações são pseudônimas, por isso não são fáceis de rastrear, e um livro-razão descentralizado elimina a necessidade de bancos e governos, de forma que também não há nenhuma empresa que possa ser intimada em uma investigação.

A dark web, na qual são vendidos produtos ilegais, funciona exclusivamente com criptomoedas há anos, disse. O que virou uma tendência crescente nos últimos 12 meses é que organizações criminosas como cartéis de traficantes de drogas estão usando moedas digitais em diversas operações, desde lavagem de dinheiro até transferências internacionais, porque é uma alternativa mais barata, rápida e vista como mais segura do que usar o sistema bancário, disse Infante.

Contudo, trata-se de uma faca de dois gumes para os criminosos porque a lei está usando a tecnologia do blockchain a seu favor. O bitcoin e outros blockchains são públicos e imutáveis, portanto oferecem um recurso valioso para os agentes rastrearem transações e padrões, e embora os endereços das carteiras antes ocultassem as identidades dos usuários, segundo Infante "isso já não ocorre".

Infante disse que os criminosos provavelmente continuarão usando criptomoedas, mas que para ela está tudo bem.

"O blockchain na verdade nos dá muitas ferramentas para identificar pessoas", disse. "Quero mais é que continuem usando."