Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Gigante de energia heliotérmica desafia bateria de Musk

Laura Millan Lombrana

07/08/2018 12h51

(Bloomberg) -- O único projeto de energia heliotérmica da América do Sul está retomando a construção em um momento em que a tecnologia que ele utiliza corre o risco de ser superada por uma alternativa mais barata.

A usina solar Cerro Dominador ficou abandonada nas planícies do Deserto do Atacama, no Chile, durante mais de dois anos depois que a ex-coproprietária Abengoa passou a enfrentar dificuldades financeiras. A companhia finalmente vendeu sua participação para sua parceira, a empresa de private equity EIG Global Energy Partners, que em maio garantiu os US$ 758 milhões necessários para concluir a usina de US$ 1,1 bilhão.

"Não foi fácil chegar aqui, passamos por alguns momentos difíceis em que não sabíamos se conseguiríamos", disse Fernando González, CEO da Cerro Dominador, no local na quinta-feira, quando a obra foi retomada. "Conseguir o financiamento foi um marco que mostra a confiança dos bancos internacionais na tecnologia e no país."

Quando estiver concluída, a usina Cerro Dominador será uma obra de engenharia de tirar o fôlego, com 10.800 espelhos gigantescos que concentrarão a luz no topo de uma torre com mais que o dobro da altura da Estátua da Liberdade. À medida que o sol cruza o céu, movimentos minúsculos dos espelhos, alguns a até um quilômetro e meio da torre, aquecem uma solução salina que, por sua vez, ferve a água. O resultado é energia elétrica 24 horas por dia.

Os trabalhadores começaram a limpar a poeira que se acumulou nos espelhos, e a construção da usina de 110 megawatts deve ser concluída no final de 2019. Ela funcionará em combinação com uma usina solar convencional de 100 megawatts que foi conectada à rede elétrica em maio.

Nêmese

A milhares de quilômetros de distância, no outback australiano, existe uma tecnologia rival que poderia transformar as usinas heliotérmicas em coisa do passado.

A maior bateria de íons de lítio do mundo, construída pela Tesla, de Elon Musk, pode armazenar 129 megawatts/hora da eletricidade gerada por um parque eólico próximo, de acordo com a Bloomberg New Energy Finance. A bateria foi construída em menos de 100 dias e o projeto tem um custo estimado entre 100 milhões de dólares australianos (US$ 74 milhões) e 120 milhões de dólares australianos. Seriam necessárias muitas dessas baterias para fornecer a mesma quantidade de eletricidade que a usina Cerro Dominador gera a noite toda.

"A tecnologia [heliotérmica] não está obsoleta, mas é uma tecnologia de nicho, o que significa que ela só é viável em regiões com padrões muito altos de luz solar", como o norte do Chile, disse Pavel Molchanov, analista da Raymond James.

Os preços das baterias caíram 24 por cento no período de um ano finalizado em dezembro de 2017, segundo um relatório de 2018 da Bloomberg New Energy Finance, mais do que o previsto no início do ano.

"Baterias de grande escala para a rede elétrica são uma nova tecnologia que não existia há 10 anos", disse Molchanov. "E estão cada vez mais populares."

Imperturbável

A Cerro Dominador assinou um contrato de 15 anos para produzir eletricidade a US$ 114 por megawatt por hora, a partir de 2019. Esse contrato permitiu que a EIG avançasse com o projeto, apesar da concorrência potencial das baterias.

"Daqui a 15 anos, esta usina estará funcionando exatamente como agora", disse González. "Ela foi construída com uma vida útil de 30 a 40 anos."