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Apesar das tarifas, China continua importando soja dos EUA

Shruti Date Singh e Tatiana Freitas

08/08/2018 16h06

(Bloomberg) -- Parece que a China não pode evitar completamente a soja dos EUA, pois pelo menos algumas cargas da oferta americana estão chegando a seus portos.

A soja foi empurrada para o centro da guerra comercial entre os dois países. A China impôs tarifas de retaliação de 25 por cento sobre as remessas americanas, o que fez com que os compradores do país asiático corressem para o Brasil em busca de suprimentos. Mas, embora o país seja o maior exportador do mundo, é pouco provável que consiga satisfazer sozinho o apetite voraz da China.

As ofertas brasileiras começarão a diminuir em outubro, após meses de remessas recorde. É também nessa época que a colheita da safra dos EUA estará em pleno andamento. Como nenhum outro produtor realmente exporta o suficiente para satisfazer a demanda da China, o país provavelmente comprará dos EUA, ou sofrerá com a escassez.

"Começaremos a ver mais negócios sendo feitos" entre os EUA e a China, disse Mark Schultz, analista-chefe de mercado da Northstar Commodity em Minneapolis, nos EUA. "Talvez nunca volte aos níveis que tínhamos antes, mas vai ser melhor do que nada."

A China é o maior comprador de soja do mundo e transforma a oleaginosa em farelo, usado na alimentação do gado, e em óleo de cozinha.

Como a guerra comercial mudou os padrões de compra, os preços da oleaginosa dispararam no Brasil e os futuros nos EUA caíram. Mesmo com essa movimentação, a soja brasileira continua sendo mais barata para os compradores chineses do que a oferta americana por causa das tarifas, disse Paulo Sousa, diretor de grãos da Cargill para a América Latina, em um evento do setor nesta semana.

Não há superestimação na magnitude da China quando se trata de comércio de soja. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) estimou que as importações de soja da China cairão para 95 milhões de toneladas na temporada 2018-2019, o primeiro declínio em 15 anos. Mesmo com a queda, o volume ainda representa cerca de 60 por cento do total de remessas globais.

As exportações brasileiras para a temporada estão estimadas em 75 milhões de toneladas. Mesmo se a China sugar tudo isso sozinha, ainda terá um déficit de 20 milhões de toneladas, que precisará comprar em algum lugar.

Talvez seja quase impossível atender a essa necessidade de importação sem comprar dos EUA, que deve embarcar 55,5 milhões de toneladas. A Argentina, considerada como o segundo maior país exportador, deve fornecer apenas 8 milhões de toneladas, mostram dados do USDA.

Já há evidências de que a China continua comprando dos EUA. O graneleiro Betis zarpou do terminal de exportação da Gavilon Group em Kalama, Washington, nos EUA, para Xangai em 29 de julho, levando a primeira carga de soja americana destinada à China em três semanas, segundo relatório publicado pelo USDA.

Para atender à sua demanda a China provavelmente precisará importar pelo menos 10 milhões de toneladas de soja dos EUA, disse Jiang Boheng, analista da Luzheng Futures, em entrevista por telefone de Shandong.

--Com a colaboração de Mario Parker e Shuping Niu.

Repórteres da matéria original: Shruti Date Singh em Chicago, ssingh28@bloomberg.net;Tatiana Freitas em São Paulo, tfreitas4@bloomberg.net