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Executivos do Goldman entram em confusão com ex-menino-prodígio

Sridhar Natarajan e Luca Casiraghi

13/08/2018 15h16

(Bloomberg) -- Sob o sol ardente da Sardenha, altos executivos do Goldman Sachs embarcaram no iate de 223 pés.

Era agosto de 2015. Michael Daffey e John Storey trouxeram as esposas para cultivar um cliente improvável: Lars Windhorst, alemão com trajetória polêmica que afastou muitos parceiros de negócios no setor financeiro.

Naquela época, a reputação dele estava sendo restaurada. O Goldman Sachs estava pronto para discutir um relacionamento - que acabou metendo alguns de seus profissionais mais renomados em um imbróglio jurídico. A pergunta central na disputa é quem foi responsável por permitir uma operação realizada em 2016 ? supostamente proposta por Windhorst ? que expôs o banco a milhões de dólares em potenciais perdas.

Windhorst, outrora um menino-prodígio que já havia enfrentado o estouro da bolha das empresas ponto-com e a crise financeira, nega qualquer envolvimento.

Nos meses que se seguiram ao encontro no iate dele, Windhorst aumentou seu engajamento com o banco. Foram realizadas operações com ações e títulos envolvendo suas afiliadas, embora o departamento de compliance resistisse a um relacionamento mais estreito, de acordo com pessoas com conhecimento do assunto. Um ano depois, foi realizada a transação problemática com uma empresa de publicidade digital. Uma investigação interna provocou a demissão de Chris Rollins, que trabalhou para o banco durante 16 anos.

Rollins, que assumiu recentemente a presidência da corretora BTIG na Europa, entrou com um processo contra o Goldman Sachs Group em um tribunal federal de Manhattan na semana passada, alegando ter sido usado como bode expiatório para gestores acima dele que cultivaram o relacionamento com Windhorst.

O processo movido por ele descreve atitudes de alguns dos principais executivos do banco na Europa, incluindo Jim Esposito, hoje corresponsável pela área de negociação de ativos financeiros, e Richard Gnodde, que toca a divisão internacional. O banco afirma que o caso não tem mérito.

Em comunicado divulgado no domingo, o Goldman argumenta que Rollins sabia que a instituição tinha receio de lidar com o investidor (que não é identificado pelo nome no processo) e que determinadas autorizações seriam necessárias antes da execução da operação em questão. Alistair Kellie, porta-voz de Lars Windhorst, "nega veementemente" que seja ele a pessoa implicada da queixa.

Tropeços

Hoje com 41 anos, Windhorst ficou famoso ainda adolescente, na década de 1990, quando acompanhou o chanceler Helmut Kohl durante uma viagem oficial pela Ásia. Antes de completar 30 anos, ele já havia ganhado e perdido uma fortuna e chegou a declarar falência pessoal. Mas em 2015, ele dava festas no Museu de História Natural em Londres e em seu enorme iate no Mar Mediterrâneo.

Ele vinha cortejando o Goldman Sachs e outros bancos de Wall Street durante anos, tentando estabelecer um relacionamento mais próximo para investimentos e negociação de ativos. Finalmente, esses esforços estavam dando certo.

Nos meses seguintes, o Goldman Sachs fez parte de um trio que levantou US$ 1,2 bilhão para a Etihad Airways e afiliadas. Junto com o banco estavam as corretoras ADS Securities e Anoa Capital, que tinham ligações com Windhorst.

Segundo o processo, no final de 2015, o Goldman Sachs já tinha aberto uma conta em Nova York para o fundo de investimento Sapinda, de Windhorst, mas o departamento de compliance não aprovou uma outra conta em Londres por causa do passado do investidor.

Responsável pelas vendas de ações na Europa, Storey procurava maneiras de trazer Windhorst como cliente, de acordo com fontes com conhecimento da situação. Em meados de 2016, surgiu uma oportunidade lucrativa.

O fundo de Windhorst comprou uma participação de 20 por cento na Buwog, uma empresa de imóveis na Áustria, e tentou passá-la para frente em poucas semanas, por meio do Goldman Sachs. A transação foi executada por Rollins e gerou lucro para o Goldman Sachs.

Corretora do Oriente Médio

Inicialmente, um comitê do Goldman que faz parte do sistema de compliance não deu aprovação para a transação, mas segundo consta no processo, essa postura mudou após uma reunião envolvendo executivos sênior como Daffey, Gnodde e Michael Sherwood, corresponsável pela área internacional.

Em agosto de 2016, Windhorst conversou com Rollins sobre uma operação envolvendo uma empresa de publicidade digital da qual ele era sócio, a RNTS Media, de acordo com as fontes. Ele propôs que a ADS Securities, corretora com sede nos Emirados Árabes e que havia atuado na operação com a Etihad, entrasse como compradora da participação se o Goldman Sachs aceitasse atuar na corretagem, segundo as pessoas, que pediram anonimato.

A ADS Securities deixou de pagar por ações da RNTS, deixando o Goldman Sachs com uma conta de US$ 85 milhões. A ADS afirma que não pode comentar sobre o ocorrido.

Investigação interna

O banco começou a investigar. Logo em seguida, Windhorst foi envolvido em outras disputas judiciais, que já foram resolvidas, e as empresas dele foram reestruturadas.

Na queixa, Rollins afirma que a operação com a Buwog demonstra a disposição do banco de trabalhar com Windhorst, acrescentando que ele não sabia de qualquer restrição à transação com a RNTS. Segundo o documento, após uma audiência disciplinar encabeçada por Esposito, Rollins foi demitido em fevereiro de 2017 por violar as supostas restrições.

Rollins afirma que o Goldman Sachs atuou injustamente ao colocar a culpa nele para evitar uma investigação sobre o que fizeram seus superiores e o próprio departamento de compliance, impedindo assim um escândalo maior.

--Com a colaboração de Patricia Hurtado.

Repórteres da matéria original: Sridhar Natarajan em N York, snatarajan15@bloomberg.net;Luca Casiraghi em Londres, lcasiraghi@bloomberg.net