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Vacas francesas ganham sobrevida após sanções de Trump ao Irã

Ania Nussbaum

13/08/2018 12h40

(Bloomberg) -- Milhares de vacas estão presas no interior da França depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs novas sanções ao Irã.

O rebanho que agora pasta na Normandia seria enviado a matadouros de Teerã nos próximos meses como parte de um projeto de exportação liderado por criadores locais e por uma empresa iraniana. Em vez disso, o plano foi suspenso porque os bancos se recusaram a receber o pagamento do Irã pelo gado.

Embora tenha pouco impacto sobre as exportações gerais do maior produtor agrícola da Europa, a situação dos rebanhos ilustra os efeitos de longo alcance das sanções dos EUA ao Irã no comércio global. Após a flexibilização de uma série de medidas anteriores, em 2016, o Irã ressurgiu como ponto de crescimento. O comércio com a Europa subiu para mais de US$ 10 bilhões. As exportações francesas dobraram no ano passado, para 1,5 bilhão de euros (US$ 1,7 bilhão).

As medidas mais recentes proíbem especificamente o comércio de ouro, metais e automóveis, mas não de gado, mas a limitação do acesso iraniano ao dólar e as sanções adicionais às instituições financeiras a partir de novembro afetarão todos os setores. Empresas europeias como a PSA Group, controladora da Peugeot, as fabricantes de veículos rivais Renault e Daimler e a produtora de petróleo Total anunciaram a suspensão de suas atividades no Irã.

Vacas simbólicas

"O mercado bovino é simbólico", disse a senadora francesa Nathalie Goulet, uma das primeiras defensoras do projeto, por telefone. "A longo prazo, isso pode significar uma perda de participação de mercado para a Normandia e para a França se os iranianos conseguirem outros fornecedores."

Segundo o plano, os criadores franceses acabariam enviando 20.000 bezerros por ano ao Irã. A Agence-France Presse foi a primeira a noticiar a suspensão do programa, no início da semana passada. A Agrial, uma cooperativa francesa com atividades nos EUA, desistiu, disse Goulet, acrescentando que a empresa iraniana Seamorgh era a cliente. A Seamorgh não deu retorno imediato a um e-mail em busca de comentários, e um porta-voz da Agrial preferiu não comentar.

Os criadores franceses e a região da Normandia esperavam que as exportações gerassem mais negócios com o Irã, como a exportação de ração para gado e de carne processada, disse Anne-Marie Denis, presidente do lobby agrícola local FDSEA, que supervisionou o embarque de um primeiro rebanho de 310 vacas, no ano passado. Na ocasião, os pagamentos foram executados, disse o chefe da agência de desenvolvimento da Normandia, Alexandre Wahl, por telefone.

Uma autoridade francesa afirmou nesta semana que o país busca uma isenção dos EUA para que as empresas não atingidas por sanções possam continuar fazendo negócios. Essas iniciativas, ecoadas em nível europeu, não conseguiram evitar que as empresas se retirassem do país. Para muitas, a perspectiva de perder presença no mercado dos EUA, que é muito maior, pesa mais que o comércio com o Irã.

Para Goulet, é necessário um sistema para salvar projetos de exportação como o das vacas. A sugestão das redes sociais para efetuar os pagamentos em bitcoin é uma brincadeira, disse ela, mas "o ponto é que é preciso encontrar uma solução por meio de um sistema bancário alternativo".