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Por que um bilionário chinês estudava nos EUA antes de ser preso

Bloomberg News

04/09/2018 14h07

(Bloomberg) -- Com uma fortuna de US$ 7,3 bilhões e operações comerciais pelo planeta afora, Richard Liu podia ter passado os últimos dias de agosto em qualquer lugar do mundo. O fundador da JD.com escolheu passar seu tempo em sala de aula em Minneapolis, como aluno da Universidade de Minnesota.

Por que um dos personagens mais bem-sucedidos e famosos do mundo empresarial da China estava estudando, e tão longe de casa? Isso é parte do mistério em torno dos dias que Liu passou em Minnesota, onde foi preso por supostos crimes de conduta sexual no começo do fim de semana prolongado do Dia do Trabalho nos EUA.

Liu, de 45 anos, é aluno da Faculdade de Administração Carlson e estava em Minneapolis para concluir a residência nos EUA de um programa de doutorado em administração de empresas entre EUA e China. O curso é realizado principalmente em Pequim com um grupo de alunos singular: a média de idade é de 50 anos e muitos são capitães da indústria. Codirigido pela Universidade Tsinghua - alma mater de líderes chineses, entre eles Xi Jinping -, seu grupo de graduados inclui o gerente executivo da célebre fabricante de destilados Kweichow Moutai e o diretor da titã de tecnologia financeira Ant Financial.

O programa na região metropolitana de Minneapolis-Saint Paul é um dos muitos que atendem a um grupo chinês em rápida expansão: os executivos seniores. Diferentemente dos EUA, onde nomes como Mark Zuckerberg e Bill Gates se orgulham de terem largado a faculdade, os executivos chineses buscam distinções acadêmicas mesmo depois de elas deixarem de ser importantes para suas carreiras.

"Se você tiver um título superior e uma formação melhor, você obterá mais reconhecimento", disse Wang Huiyao, fundador do Center for China and Globalization, um think tank que assessora o governo. "A China dá mais valor à educação acadêmica."

Objetivos

Não se trata apenas de obter credenciais acadêmicas. Muitos executivos que cresceram frustrados pelas restrições no exterior estão se entregando à liberdade de viajar. Outros, cujas empresas estudam mercados internacionais, buscam aproveitar redes de contatos no exterior e conhecer melhor seus objetivos.

"Para pessoas como Richard Liu, a questão não é tanto conhecer mais pessoas. Com certeza o propósito é ampliar sua perspectiva, aprender ideias novas, entender melhor a sociedade e o mercado dos EUA", disse Freeman Shen, ex-aluno e membro do conselho de supervisores da Carlson que fundou a startup de veículos elétricos WM Motor Technology.

Liu foi preso pela polícia de Minneapolis por uma acusação de "conduta sexual criminosa" na noite de sexta-feira e ficou cerca de 16 horas detido. Um porta-voz do Departamento de Polícia disse que a investigação está em andamento. Joseph Friedberg, advogado de Liu, diz que não serão apresentadas acusações criminais e que o CEO não fez nada de errado.

Graduados estrangeiros e executivos de recrutamento dizem que um dos motivos da recente popularidade dos programas acadêmicos no exterior é uma necessidade urgente de resolver os problemas enfrentados pela economia, que muda rapidamente, como por exemplo a divisão entre ricos e pobres, o desenvolvimento tecnológico e o crescimento sustentável.

"Todos sabem que o que funcionava antigamente não vai funcionar no futuro", disse Ken Qi, executivo de recrutamento da Spencer Stuart. "A economia como um todo está sendo extremamente pressionada a se transformar."

--Com a colaboração de Weiyi Qiu.

To contact Bloomberg News staff for this story: David Ramli em Pequim, dramli1@bloomberg.net;Ying Tian em Pequim, ytian@bloomberg.net