Velha política se recusa a morrer, apesar de corrupção
(Bloomberg) -- A velha política não quer morrer. Em meio ao maior escândalo de corrupção do país e a uma recessão econômica que faz milhões de brasileiros esperarem por mudança e renovação, o que se vê são rostos antigos buscando se manter no poder.
Assim como os presidenciáveis são velhos conhecidos dos eleitores, centenas de deputados e senadores, muitos deles investigados na Operação Lava-Jato, querem permanecer nos seus cargos. Dos 513 deputados, 402 estão concorrendo à reeleição, um índice de 79%. No Senado, 32 dos atuais congressistas tentam a reeleição, ou seja, 59%.
Na Câmara, este número é maior do que nas eleições de 2014, quando 387 tentaram renovar seus mandatos. No Senado, o índice de reeleição é o maior das últimas três eleições.
A Lava-Jato parece não ter constrangido congressistas alvo de investigações. Ao menos 40 deputados e 17 senadores querem renovar os mandatos nesta condição, segundo levantamento do Jota, site especializado em temas jurídicos.
Esse alto índice de candidaturas à reeleição é motivado por incentivos na lei eleitoral, feita pelos próprios parlamentares, que os favoreceram ainda mais, diz o coordenador do estudo feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Antônio Augusto de Queiroz.
"O candidato à reeleição tem vantagens comparativas enormes em relação a quem aspirar ocupar seu lugar", disse. Queiroz citou como exemplo desse favorecimento o fato de o parlamentar concorrer no exercício do mandato, tendo mais exposição que um novato; e mais acesso ao fundo eleitoral do partido.
A disparidade de condições têm refletido historicamente nas eleições, com um índice de reeleição sempre maior do que de renovação. Em 2014, 56,3% dos deputados foram reeleitos, contra 43,7% novos deputados.
Apesar da dificuldade em nadar contra a corrente, esta é a eleição com mais candidatos a deputado federal das últimas décadas: 8.332 postulantes a uma das 513 vagas.
Réu no STF por lavagem de dinheiro e associação criminosa, o deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), candidato à reeleição para o terceiro mandato, disse que desistir da política por conta dos processos seria admissão de culpa. "Quero concorrer e ganhar. Se não concorresse, estaria reconhecendo uma culpa que não tenho. Há quem ache que estou na disputa pelo foro privilegiado, mas tem deputado sendo preso com foro mesmo", disse à Bloomberg.
Foi o caso de um dos mais antigos políticos brasileiros, Paulo Maluf, ex-governador de São Paulo. Ele teve o mandato cassado, depois de se esquivar por meses do processo. A carreira de Maluf foi cercada por polêmicas e acusações, mas só em 2017 veio a primeira derrota: o STF o condenou a sete anos de prisão por lavagem de dinheiro. A Corte determinou ainda que Maluf não poderia exercer cargo de deputado federal. Em agosto, a Câmara declarou sua cassação.
Na onda da frustração com os políticos, foram criados nos últimos anos movimentos de incentivo à renovação. Um deles, o Acredito, reúne cerca de 2 mil jovens em 14 estados do país e lançará 30 candidatos a deputados estadual, federal e senador.
Para o coordenador nacional do movimento, Samuel Emílio Melo, dificilmente haverá aumento na renovação da cara do Congresso nas eleições deste ano. Isso porque os dirigentes partidários e parlamentares decidiram de forma unilateral a distribuição dos recursos públicos para as campanhas, privilegiando "velhos caciques". "As eleições de 2018 já foram sabotadas. O que precisamos fazer é discutir com o próximo Congresso critérios claros, transparentes e meritocráticos para que haja uma distribuição do fundo eleitoral mais justa".
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