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Colheita de cacau na África é teste para dois grandes produtores

Leanne de Bassompierre e Isis Almeida

01/10/2018 11h18

(Bloomberg) -- A nova safra do cacau, que começa nesta semana, é uma oportunidade para os dois maiores produtores mostrarem a seriedade da iniciativa para ampliar a cooperação e exercer mais influência no mercado.

Costa do Marfim e Gana, vizinhos na África Ocidental que controlam juntos cerca de 60 por cento da produção mundial de cacau, deverão anunciar preços mínimos para seus produtores nesta segunda-feira, data de início da maior das duas colheitas anuais. Os preços do cacau, que têm oscilado fortemente nos últimos anos, deverão subir pela primeira vez em três anos.

Veja o que analisar no começo da nova safra:

Preços dos produtores rurais

Costa do Marfim e Gana se comprometeram a coordenar o anúncio de seus chamados preços de porteira como um passo inicial para uma maior colaboração. O preço atual de Gana é mais alto e a discrepância estimulou o contrabando e desestabilizou o setor do cacau, disse Edward George, chefe de pesquisa de grupo do Ecobank Transnational.

Ambos os países vendem suas colheitas com antecedência para determinar os preços dos produtores rurais, mas fatores políticos e econômicos também influem. Gana, que manteve o pagamento dos produtores artificialmente alto na safra atual, deverá manter a taxa inalterada ao equivalente a 7.600 cedis (US$ 1.530) por tonelada após a recuperação dos preços internacionais.

A Costa do Marfim deverá aumentar o salário dos produtores após a recuperação dos preços, disseram pessoas a par do assunto na semana passada. O preço da safra principal subirá para 750 francos CFA (US$ 1,34) a 800 francos por quilo, contra 700 francos na safra do ano passado, disseram, pedindo para não serem identificadas por estarem discutindo informações privadas. A mediana das previsões em uma pesquisa com nove tradings, corretoras, analistas e exportadoras de cacau foi de 750 francos CFA por quilo.

Equilíbrio do mercado

O tamanho das safras na Costa do Marfim e em Gana pode ter grandes implicações para o mercado internacional do cacau, que vem operando com excedente nos últimos dois anos. Neste ano, no entanto, a forte demanda pelo ingrediente do chocolate deverá mais do que compensar outra série de safras abundantes, resultando em um pequeno déficit de 50.000 toneladas na temporada que começa em 1º de outubro, segundo a mediana das estimativas da Bloomberg com 10 tradings, corretoras, analistas e exportadoras de cacau.

A Costa do Marfim provavelmente produzirá 2 milhões de toneladas de cacau na próxima temporada, total não muito diferente do montante do ano anterior, mostrou a pesquisa e a produção de Gana chegará a 877.000 toneladas, nível também semelhante ao daquela temporada.

Clima

Os produtores rurais de Gana e da Costa do Marfim entrevistados pela Bloomberg mostraram satisfação com o clima recente e relataram um misto de chuva e sol que é favorável para o desenvolvimento das plantações, embora as chuvas pesadas tenham gerado inundações e a prevalência da doença da podridão parda em algumas áreas. Os produtores podem esperar mais chuva do que o normal no restante de outubro, disse Drew Lerner, presidente da World Weather, em entrevista por telefone.

Pressão por financiamento

Os comerciantes ficarão atentos às consequências atuais da liquidação da Saf-Cacao, uma das principais exportadoras de cacau da Costa do Marfim, que deve aos bancos um total estimado em 150 bilhões de francos CFA.

O setor ainda está se recuperando da crise de 2016-2017, quando a queda dos preços fez com que os exportadores dessem calote em contratos de milhares de toneladas.

--Com a colaboração de Baudelaire Mieu, Samuel Dodge e Manisha Jha.

Repórteres da matéria original: Leanne de Bassompierre em Abidjan, ldebassompie@bloomberg.net;Isis Almeida em Londres, ialmeida3@bloomberg.net