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Ana Botín, do Santander, mantém a calma em relação ao Brasil

Charlie Devereux e Francine Lacqua

02/10/2018 16h02

(Bloomberg) -- A presidente do conselho do Banco Santander, Ana Botín, observadora do Brasil há três décadas, continua otimista em relação ao País apesar das eleições divisivas que ameaçam a maior economia da América Latina.

A unidade brasileira do banco provavelmente entregará um retorno sobre o patrimônio perto de 20 por cento neste ano, disse Botín, em entrevista à Bloomberg Television, nesta terça-feira. Mesmo durante a última recessão, o ROE permaneceu próximo de 14 por cento no Brasil, disse. O nível é superior ao de praticamente todos os demais integrantes do Bloomberg Europe Banks and Financial Services Index.

Muitos brasileiros estão divididos às vésperas da eleição de 7 de outubro que selecionará dois candidatos à presidência. Os mais propensos a chegar ao segundo turno são um ex-capitão do Exército, de extrema-direita, com uma visão benigna sobre a ditadura, e um esquerdista do partido que levou a economia para a beira do abismo. Alguns líderes empresariais temem que a polarização entre esquerda e direita possa colocar em risco uma reforma da previdência significativa e isso já forçou algumas empresas a suspender seus planos financeiros.

"Eu tenho uma fé enorme em um país que conheço há 30 anos", disse Botín. "As eleições serão importantes, sim, mas determinarão o ritmo do desenvolvimento, não a direção. A eleição de domingo não é o fim, nem o começo do Brasil. Eu a vejo como uma normalização da política."

Otimismo de Botín

Estão em jogo no Brasil quase US$ 1 trilhão em dívida pública, a produção de uma das principais cestas de alimentos do mundo e um enorme mercado para as empresas multinacionais. O tamanho desse mercado interno, seu forte setor privado e a força das instituições do país respaldam o otimismo de Botín, embora alguns analistas enxerguem riscos para sua democracia.

O Brasil e o México respondem por cerca de um terço do lucro líquido do Santander, aproximadamente o mesmo que a Espanha, Portugal e o negócio de consumo do Santander nos países da zona do euro. O total de empréstimos nos dois países latino-americanos, no entanto, é de menos de um terço disso, disse Botín, o que demonstra o potencial de crescimento na região.

Nem todos embarcam no otimismo de Botín: Daragh Quinn, analista da KBW, reduziu sua classificação para a ação, de desempenho acima da média para performance em linha com o mercado, afirmando que a incerteza gerada pelas eleições no Brasil deste mês é a pior desde 2002.

Repórteres da matéria original: Charlie Devereux em Buenos Aires, cdevereux3@bloomberg.net;Francine Lacqua em Londres, flacqua@bloomberg.net