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Europa tem muito a perder com expansão do império russo do trigo

Agnieszka de Sousa e Anatoly Medetsky

02/10/2018 11h22

(Bloomberg) -- Os fazendeiros europeus, em particular os da França, serão os mais afetados se a Rússia conseguir entrar no quarto maior mercado importador de trigo.

A França é atualmente a maior fornecedora de trigo da Argélia, que compra enormes quantidades de grãos para alimentar sua população. Mas há uma especulação crescente de que essa importante relação comercial será minada pela Rússia, que é capaz de oferecer um trigo mais barato.

A Rússia e a Argélia adotaram medidas preliminares recentemente para ampliar o comércio. Na semana passada, a Rússia realizou uma turnê para autoridades argelinas, incluindo uma visita a uma padaria e ao escritório de qualidade dos grãos. Um carregamento experimental de trigo russo será enviado em breve, segundo a agência agrícola Rosselkhoznadzor. Até então, o trigo russo vinha sendo barrado na Argélia devido a problemas de qualidade.

"Essa situação é temida há algum tempo e agora isso está prestes a se tornar realidade", disse Ben Bodart, diretor da consultoria CRM AgriCommodities, em Newmarket, Inglaterra, por e-mail. O efeito total sobre os fluxos de comércio "teria um impacto muito mais pesado com um mercado bem abastecido", disse.

A abertura da Argélia para o trigo da Rússia prejudicaria ainda mais a posição da Europa nos mercados globais e consolidaria a posição da Rússia como maior fornecedora do Norte da África.

A França tem dependido da Argélia para vender o excedente após o encolhimento do comércio de trigo com outros países. A França perdeu participação de mercado em países como Marrocos, Camarões e Senegal após colheita ruim em 2016-2017.

"Se a Argélia decidir abrir as portas para o trigo russo para moagem, haverá um terremoto no mercado global", disse Gabriel Omnes, analista da Stratégie Grains. "Muita gente no mercado do trigo acredita que isso acontecerá mais cedo ou mais tarde porque o trigo russo é o mais competitivo há muitos anos."

Repórteres da matéria original: Agnieszka de Sousa em Londres, atroszkiewic@bloomberg.net;Anatoly Medetsky em Moscou, amedetsky@bloomberg.net