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Pacientes asiáticos começam a ter remédios projetados para eles

Ari Altstedter

03/10/2018 11h14

(Bloomberg) -- Durante décadas, boa parte dos projetos de inovação médica fluiu do Ocidente para o Oriente. Agora, uma série de empresas está tentando modificar essa tendência com novos medicamentos e produtos adaptados aos corpos e estilos de vida asiáticos.

Uma empresa farmacêutica com sede em Cingapura busca combater um câncer pouco conhecido e raro no Ocidente, mas comum na Ásia, onde está ligado a um prato popular à base de peixe. Startups de tecnologia médica estão se preparando para vender testes para detecção de tumores com mais precisão em mulheres asiáticas com tecido mamário mais denso, incluindo um aparelho de vestir que é colocado no sutiã. Até mesmo grandes empresas farmacêuticas como AstraZeneca e Roche agora têm drogas que miram uma mutação que provoca câncer de pulmão encontrada com mais frequência em mulheres do Leste Asiático.

Essa mudança simples, porém radical, se dá em um momento em que a expansão das economias e da renda na Ásia permitem gastos maiores com saúde. Isso está incentivando mais farmacêuticas a se estabelecerem na região. Tanto empresas ocidentais quanto novas farmacêuticas asiáticas estão criando centros de pesquisa e desenvolvimento para desenvolver medicamentos para as populações locais. A consultoria Frost & Sullivan prevê que a receita total do setor de saúde na Ásia aumentará 11 por cento neste ano, para US$ 517 bilhões.

Muitos dos pesquisadores focados na Ásia têm um ponto de partida simples: as doenças e suas curas às vezes podem funcionar de maneira diferente em populações diferentes e um regime único adaptado ao Ocidente não é suficiente. A abordagem surge com mais frequência no tratamento do câncer na Ásia, onde ocorrem tumores raros no Ocidente.

"Os pacientes estão aqui, as amostras de tumores estão aqui e o conhecimento básico também", disse Brigette Ma, professora da Universidade Chinesa de Hong Kong especializada no desenvolvimento de novas drogas. "Ao reconhecer a diversidade, não apenas em termos de necessidades culturais e econômicas -- reconhecer a diversidade no tocante ao tratamento do câncer --, estamos levando medicamentos para onde eles são necessários."

A mudança faz parte de uma tendência mais ampla na indústria global de saúde chamada medicina de precisão, que busca adequar o tratamento às características genéticas e às circunstâncias específicas de uma pessoa, incluindo aquelas normalmente compartilhadas por pessoas do mesmo grupo étnico ou cultural.

Todas essas diferenças levaram à postulação de um "fenótipo asiático", uma forma diferente por meio da qual os genes dos asiáticos são expressados devido à biologia e ao ambiente. Se antes o setor de saúde normalmente buscava aprovação para novos produtos no Ocidente antes de levá-los para a Ásia, agora mais empresas planejam fazer o caminho contrário para algumas doenças.

"Esses pacientes realmente precisam dos medicamentos na Ásia", disse Vishal Doshi, cuja startup de desenvolvimento de medicamentos AUM Biosciences se concentra em terapias para cânceres prevalentes na Ásia. "Isso é o que eu chamo de filosofia 'do Oriente para o Ocidente', ao contrário da filosofia 'do Ocidente para o Oriente'."