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Chuva, morte de frangos, empregos perdidos: a alumina no Brasil

R.T. Watson

04/10/2018 18h25

(Bloomberg) -- A decisão da Norsk Hydro de fechar sua refinaria de alumina no Brasil foi precedida por uma forte chuva, um vazamento em uma barragem e um debate a respeito de galinhas e vacas mortas.

Agora, geram preocupação tanto a perda de empregos quanto os rejeitos da unidade. Um total estimado de 4.700 trabalhadores podem perder o emprego depois que a empresa norueguesa afirmou que liminares desnecessárias estão impossibilitando a continuidade da operação da maior refinaria do mundo de alumina, um ingrediente-chave do alumínio, juntamente com duas instalações associadas.

O fechamento anunciado -- a empresa preferiu não informar se a unidade poderia reabrir -- derrubou as ações da Hydro e elevou os preços internacionais do alumínio. A Hydro culpou um embargo específico que a impede de usar o mais novo dos dois reservatórios de rejeitos da instalação depois que promotores afirmaram que um vazamento ocorrido em fevereiro contaminou o rio Pará, vizinho da unidade, e fontes locais de água.

A Hydro anunciou o fechamento na quarta-feira, dias depois de os promotores afirmarem que será necessário pelo menos um ano para a refinaria Alunorte retomar a produção total. Em teleconferência com analistas, o CEO da Hydro, Svein Richard Brandtzaeg, disse que era "impossível dizer" quando o tribunal que ordenou a redução pela metade das operações da fábrica permitiria a reabertura total da produção.

Criando urgência

"Mas está claro", disse, "que esta situação está criando uma certa urgência no Brasil. É uma situação bastante dramática para a Hydro, mas também para o estado do Pará. Já foram organizadas várias reuniões e são reuniões muito importantes."

Leonam Gondim da Cruz Jr., o juiz estadual do Pará que rejeitou a apelação da Hydro para derrubar a liminar que a obrigou a reduzir a produção, chamou o anúncio de fechamento de "blefe" em entrevista por telefone.

"Eles sabem que geram muito emprego em Barcarena", disse o juiz, na quarta-feira. "Isso é uma maneira de intimidar, de pressionar, fazer com que as autoridades recuem para que eles voltem às atividades deles."

Barcarena, com cerca de 100.000 habitantes, fica ao lado da fábrica, às margens do rio Pará, um rio propenso a inundações que recebe águas de dois afluentes antes de desembocar no mar. Os moradores estão acostumados a ver suas propriedades debaixo d'água quando chove forte.

O que Patrícia Neves, que vende ovos para sustentar a família, não estava acostumada a ver era a perda de dezenas de galinhas, como ocorreu após a enchente de fevereiro. Elas morreram, acredita, por tomarem água suja da enchente. Ela culpou o vazamento, embora admita que a água também pode ter sido contaminada por uma vala comum próxima, onde há um número desconhecido de carcaças de vacas mortas, enterradas lá depois que milhares se afogaram em um naufrágio de navio no rio próximo.

Enquanto isso, a empresa argumenta no tribunal e para os promotores que não houve vazamento de nenhum material tóxico em fevereiro, o que contraria declarações de pesquisadores, que descobriram traços de metais pesados no sistema de abastecimento de água.

Esse é o problema em Barcarena, decifrar um motivo claro para a contaminação da água pode ser uma tarefa quase impossível.

A comunidade tem o pior índice de saneamento básico entre as cidades brasileiras com mais de 100.000 habitantes, segundo estudo federal divulgado em meados de julho. O relatório também apontou que os córregos e rios locais podem ter níveis tóxicos devido a problemas crônicos relacionados ao distrito industrial no qual a Alunorte está localizada, juntamente com outras empresas envolvidas na extração mineral.